terça-feira, 8 de setembro de 2009

The end

Agradecemos a todos vocês que prestigiaram a Mimo 2009 - indo a um só concerto ou a todos os possíveis - e a fizeram brilhar mais do que nunca ao longo das últimas cinco noites em Olinda, sem falar nas três tardes recifenses e na abertura em João Pessoa.

Sempre que estiverem com saudades, passem a vista nas poucas linhas que registramos por aqui. Nos vemos em 2010, com mais música e mais novidades.

Um "muito obrigado" de toda a equipe da Mostra Internacional de Música em Olinda.

Ih, acabou?



Um vídeo da noite de quinta-feira, pra gente ficar com um gostinho de começo!

Happy hour final

A despedida da Mimo aconteceu na Casa de Noca, que fica perto da Ladeira da Misericórdia, com direito a muita cerveja e macaxeira mais queijo coalho e carne de sol.

Marcaram presença toda a equipe de produção e de imprensa da Mimo (exceto os outros quatro integrantes deste blog), a equipe da Rec Produções (que cuidou da filmagem da Mostra), alguns jornalistas e mais:

- O Quarteto de Cordas de São Petersburgo (sempre em todas).
- A Grande Companhia Brasileira de Mystérios e Novidades.
- Hermeto Pascoal e sua banda.
- Maestro Duda, seu filho Marcos e sua neta Thaís.
- A pianista Joana Boechat.
- Maestro Forró.

Honrada cerveja

Na hora de sair da Casa de Noca (vide post acima), chamamos* Hermeto Pascoal para brindar conosco e ele disse que o faria com prazer, mas não tomaria a cerveja pois tinha de dormir direito e voltar pro Rio hoje.

Respondi de bate pronto que não teria problema algum e eu assumiria o copo dele. Assim, bebi uma honrada cerveja e ganhei uma pitoresca história pra contar, mais preciosa que muitos autógrafos que eu pedisse.

***

* Chamamos eu e dois amigos que estávamos lá. O resto da equipe do blog estava em suas casas, postando e preparando-se para voltar à vida normal.

História de bastidores


Foto: Beto Figueiroa

Clóvis Pereira contou uma curiosidade sobre como Hermeto Pascoal adquiriu desenvoltura no manejo de tantos instrumentos: um cunhado de Clóvis (marido de uma irmã sua) era o responsável pela guarda dos instrumentos da orquestra da Rádio Jornal, na década de 50.

Como esse cunhado gostava de Hermeto, e o "Zanoio"* por sua vez tinha muito tempo livre (já que só fazia bicos como sanfoneiro), ele liberava a chave e o deixava ficar treinando o quanto quisesse.

Clóvis lembra ainda que Hermeto e um irmão, os quais faziam trio com Sivuca, eram apelidados de "Los Hermanos Sivuca".

***

Zanoio é a alcunha que o próprio Hermeto utiliza pra si mesmo, inclusive nos autógrafos.

Aplausos ao Guerra


Foto: Internet - Reprodução

Muito merecida e muito inesperada a homenagem de Hermeto Pascoal não só ao maestro Clóvis Pereira, mas também a César Guerra-Peixe (1914-1993), professor de Clóvis no início da década de 1950.

Hermeto não foi aluno do "Guerra" (alcunha com quem os chegados tratavam o maestro e compositor fluminense), mas sabe da importância que ele teve pra música pernambucana, especialmente pelo livro Maracatus do Recife (1955) - raro até mesmo em sebos - e pelos alunos brilhantes que deixou em Pernambuco: Clóvis, Jarbas Maciel, Sivuca, Capiba e, poucos sabem, o Padre Jaime Diniz.

Guerra-Peixe foi de fato o primeiro compositor erudito a fazer anotações de campo, como se fosse um etnomusicólogo, e a usar suas notas como material para composições, diferentes de contemporâneos seus, que se valiam de registros feitos por etnomusicólogos.

Num morro do Recife, um português de outrora

O bairro onde nasceu a orquestra do Maestro Forró, um morro da Zona Norte do Recife, deve seu nome a um senhor português que ali viverá noutros tempos - Seu Hemetério - e instalou uma bomba d'água em sua casa, permitindo que os vizinhos também pudessem usufruir da benesse.

Variações sobre o tema de Vassourinhas

A Orquestra Popular da Bomba do Hemetério fez o público vibrar com suas variações em ritmo de maracatu nação, valsa e swing (swing à la Glenn Miller) sobre o tema de Vassourinhas, no show de encerramento da Mimo.

A sintonia entre o Maestro Forró e sua orquestra prova a "telepatia" entre regente e músicos, da qual falou o maestro Isaac Karabtchevsky, no concerto de domingo no Recife.

O maestro Clóvis Pereira, por sinal, escreveu uma obra sinfônica sobre Vassourinhas, que consta no CD 100 anos do frevo, da Biscoito Fino.

Meise quietinha

Maestro Duda, em mais uma de suas "tirações de onda", disse que sua filha Meise, a quem dedicou Meise no frevo, foi a única de sua prole a quem nunca viu dançar: "Ela não merecia esse frevo, não", disse, aos risos.

Padre Jaime Diniz

Maestro Duda, no concerto da Igreja de Guadalupe, explicou que fez o arranjo de Canção piazzollada, de Sivuca a pedido da viúva do sanfoneiro, Glorinha Gadelha.

O Maestro lembrou também que Sivuca e ele foram alunos do Padre Jaime Diniz (falecido em 1989) na Igreja do Carmo - professor de música dos mais cultos e estimados em Pernambuco.

Estive na Mimo

"Falar da Mimo é um prazer e uma grande emoção. Prazer porque o clima que paira em Olinda nesses dias é de muita alegria, um vai-e-vem de pessoas de todas as idades, falando, rindo, comentando, enfim, desfrutando do local e do alto astral que se instala. Uma emoção, às vezes, sem palavras para descrever : a noite de abertura na Sé, com aqueles dois violinistas magníficos, foi pura magia; o concerto da OSBM com o exímio pianista Luiz de Moura Castro foi deslumbrante; o Quarteto de São Petersburgo esbanjou competência nas duas apresentações em Olinda e no Recife e a pianista Joana Boechat com uma simpatia e naturalidade tocando com maestria e leveza, encantou a todos. Só lamento mesmo não poder ver tudo, pois algumas apresentações quase coincidem o horário e para pegar ingressos tenho que abrir mão de alguma. Mesmo o esforço para pegar ingresso (filas longas e em pé), o resultado final vale a pena. Bom, passou rápido e agora, resta aguardar a próxima edição, se Deus quiser, lá estarei".

Wilma Basto, biomédica

Mistério sempre há de pintar por aí

E não faltou mistério na apresentação Cíclopes que ocorreu na praça do Carmo hoje à tarde. Como o grupo é itinerante, surge a chance de adaptar a peça ao local onde vai ser encenada. Não deu outra: logo fizeram dos arredores da igreja do Carmo um anexo de seu cenário. Em termos de arte, a encenação caberia certinho no conceito de happening. E para quem quiser saber do que se trata, é só clicar aqui.

"Quem quer cantar?"

É, em meio a tanta descontração, Hermeto ainda perguntou se tinham alguém no público querendo cantar. Engraçado, com tantos cantores presentes, ninguém se encorajou a acompanhar o gênio. O jeito foi improvisar um coro, regido pelo próprio Hermeto e acompanhado pela Orquestra Popular da Bomba do Hemetério. E não é que ficou bonito!

Maiores informações

Para os que gostam de uma informação a mais, vale ressaltar que a peça Cíclopes encenada pelo Cia. de Mystérios e Novidades é uma adaptação da sátira homônima de autoria do poeta grego Eurípedes. Famoso por escrever tragédias, o autor só conseguiu concluir uma sátira, que sobreviveu e chegou a nossos tempos.

Abaixo, o vídeo promocional da apresentação:

Também merece, né?

No meio de composições e arranjos do Maestro Duda, pintou uma outra homenagem anacrônica, porque nem mesmo o arranjo era dele. A música era Billie Jean, de Michael Jackson, e o trompetista Marquinhos Carneiro se apresentou de chapéu, óculos e luva branca, tudo como manda o figurino. Até que o Rei do Pop merecia uma homenagenzinha na Mimo, né?

Um show de homenagens

Foto: Beto Figueiroa

Muito simpático, o "doido", como foi chamado por Maestro Forró, prestou homenagem ao maestro Clóvis Pereira, pelo qual declarou ter sido muito influenciado. E não economizou elogios ao chamá-lo para o "palco".

Homenagem mesmo ele prestou ao frevo. Do início ao fim do seu show, o ritmo pernambucano foi citado, seja na voz de Hermeto, nas notas do saxofone ou na batida do caixa da bateria. Homenagem mais bonita ainda quando com a presença da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério e o Maestro Forró.

Ao professor

O pernambucano Moacir Santos foi homenageado, na noite de 7 de setembro, por seu aluno César Camargo Mariano, que, depois de contar brevemente a história de seu professor, tocou a obra April Child.

Moacir Santos nasceu em Serra Talhada, mas foi bater no Rio de Janeiro através da música. Multinstrumentista, ele batalhou muito em prol da educação e da evolução da música brasileira, mas foi pouco reconhecido no Brasil.

"Então ele resolveu ir para os Estados Unidos tentar a vida e, enquanto não era descoberto pelos americanos como excelente músico que era, viu a esposa e os sete filhos venderem cocada e pé-de-moleque pelo Central Park", contou Mariano. O tempo passou e Moacyr Santos ficou foi descoberto na terra do Tio Sam, compôs várias trilhas de filmes e tornou-se professor da Universidade da Califórnia. "Ele virou um deus em Nova Iorque", contou Mariano. Dos dias difíceis em na ilha de Manhattan, restou uma música, a April Child, que Moacir dedicou aos seus filhos.

Diante do silêncio da plateia, Mariano brincou: "Mas não é para ficar triste não! É uma história bonita de superação, de força de vontade".

Confiram a obra tocada por César Camargo Mariano e Romero Lubambo:

"O show foi sensacional"

Melhor definição não há para o show de encerramento da sexta edição da Mimo. As palavras foram do jovem guitarrista Gabriel Izidoro, da Banda de Joseph Tourton, mas representam a opinião de todos ali presentes. E não era pouca gente. Já no final da tarde, a fila que se formava para pegar o ingresso era de assustar. Na hora do show, parecia que estavamos em pleno sábado de Zé Pereira.

Nem o calor (para quem tava dentro da igreja), nem a chuva (para os que não conseguiram ingresso) foi capaz de dispersar o grande público, que pôde conferir um show para ficar na memória. Hermeto foi simplesmente sensacional!

O "velho mago" tocou todos os instrumentos imagináveis (e os inimagináveis também, vide solo de chaleira), conversou com o público e ainda recebeu a participação especial da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério. Ao final ainda desafiou o saxofonista Vinicius Dorin para um duelo entre sax e sanfona de oito baixos: "Tá com medo de mim é ?"

Maestro Duda, o contador de histórias!

Como estava achando muito enrolada a apresentação que seu filho, o trompetista Marcos Carneiro, estava fazendo das músicas que iam ser executados. Maestro Duda resolveu assumir esse papel. Dispensando a modéstia e reconhecendo o próprio talento, ele contou, uma por uma, a história de suas composições.

Thaís, por exemplo, é uma música que ele fez para sua neta (que estava na apresentação!). Ele explicou que fez aquela canção com uma pegada de bossa nova, porque os pais da menina gostavam muito de barzinho, "aquela coisa banquinho e violão", segundo ele. Já Espera ele compôs para sua mulher, que adoeceu quando ele estava às vésperas de viajar para se apresentar e não podia cancelar o compromisso. Segundo ele, para todas as pessoas da família existe uma música. Já que dinheiro ele não tem pra dar, ele compõe.

***

Ao apresentar a música Maxixe pra Quinteto, o Maestro contou que era a primeira vez que via aquela música sendo executada. Antes disso, só tinha escutado no computador, no programa que usa para compôr.