segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Encerramento dos trabalhos

Deixamos nosso obrigado a todos que acompanharam o Blog da MIMO pelo terceiro ano seguido e ficaram antenados em tudo o que ocorreu na Mostra na semana que acabou de passar. Agora começam as apostas sobre quais serão as atrações da MIMO 2012.

Até o ano que vem.

Público em transe com duo final

Foto: Beto Figueiroa
O último concerto apresentado na Mimo 2011 ficou por conta do duo Hamilton Holanda e André Mehmari. Como não poderia deixar de ser, a dupla emocionou e prendeu o públco em cada nota dos seus respectivos instrumentos. Piano e Bandolim foram os protagonistas dessa bela homenagem à dois mestres da música instrumental brasileira: Egberto Gismonti e Hermeto Pascoal. Após duas canções, Hamilton faz uma breve apresentação do trabalho e sequencia o show com o chorinho "contínua amizade" de autoria própria e "A fala da paixão" uma lírica e emocionante composição de Egberto. O público estava em transe com aquela apresentação minimalista e só despertavam ao final de cada releitura. Chegando aos momentos finais do espetáculo, André agradece a oportunidade de estar na Mimo e cumprimenta os espectadores que os assistiam fora da igreja. Mesmo tendo fugido um pouco do repertório oficial, os músicos conduziram com maestria e foram ovacionados ao término do espetáculo, culminando no bis final.

Festa da Mimo

O blog da Mimo não poderia encerrar sem fazer suas devidas considerações à festa oficial da Mimo, que aconteceu neste sábado. A Casa de Alceu hospedou cerca de 650 convidados, disponibilizando um buffet variadíssimo, baseado em frutos do mar. Aos poucos, os convidados foram perdendo a timidez e enchendo a pista de dança, num espaço reservado com a iluminação típica. Dentre demais DJs, Catarina Dee Jah e o DJ Incidental colocaram sets bem pernambucanos para tocar na radiola. A produção, a equipe técnica e a assessoria estiveram todas presentes na confraternização. Atrações da Mimo também arranjaram um espacinho na agenda lotada de concertos e masterclasses para comparecer à festa. Estiveram no local o pianista Daniel Gortler e o violinista Tim Fain, que havia se apresentado naquela noite com Philip Glass. A organização foi bastante acertada, garantindo um momento singular dentre os muitos que integraram a programação do festival. Para completar o clima trazido pelos entornos do sítio histórico de Olinda, vale dizer que não faltou nem lua cheia na ocasião. Agora sigamos a todo vapor para a próxima edição!

Equipe de Imprensa da MIMO 2011


A Equipe de Imprensa da MIMO 2011, cujo trabalho de assessoria de imprensa e mídia social tem sido o mais destacado de um festival de música já realizado no Nordeste, está trabalhando bastante não só para levar ao público todas as informações possíveis (das essenciais até aquelas que por pouco passam batidas) mas também para contribuir na própria dinamização e apropriação da MIMO pela população de Olinda e de toda a Região Metropolitana do Recife. Aqui vai uma breve menção de reconhecimento a todo mundo que esteve envolvido nesta missão.

Trago Boa Notícia, responsável pela assessoria de imprensa local e pela divulgação em Facebook e Twitter
  1. Aline Feitosa
  2. Dulce Mesquita
  3. Elayne Bione
  4. Juliana Renepont


Ateliê Santo Lima, responsável pela fotografia e pela alimentação do Flickr
  1. Beto Figueiroa
  2. Renato Spencer
  3. Marcelo Lyra
  4. André Sampaio


MNiemeyer, que cuida da assessoria de imprensa nacional:
  1. Andrea Pessoa
  2. Leandro
  3. Alex



E, claro, o time do Blog da MIMO
  1. Carlos Eduardo Amaral
  2. Kalline Costa
  3. Pedro Paz
  4. Rafael Moura
  5. Yuri Assis

Um concerto de samba erudito

Foto: Marcelo Lyra

Como dito em post anterior, as igrejas, a priori, são locais de reverência à hierarquia católica, onde existe uma ritualística a se seguir. Acontece que a apresentação do Pagode Jazz Sardinha's Club neste domingo, num lotado Seminário de Olinda, subverteu totalmente o conceito. Nem um pouco formais ou repreendidos, trouxeram as melodias populares para a capela, acompanhados fielmente pelo público. O grupo convidou a plateia a entrar na dança, ao que se seguiu uma resposta intensa. Teve até quem, no final, dissesse, com ar de espanto, que aquela era a primeira vez em que havia sambado dentro de uma igreja.

Foto: Marcelo Lyra

Se houve alguma reverência na ocasião, foi por causa do nível de sofisticação com o qual reproduziram chorinhos, sambas e jongos. Sofisticação essa que permitiu, sem maiores dificuldades, colocar lado a lado o pagode com o jazz e a bossa nova mais refinados. Para se ter uma noção deste resultado, é possível até falar que o Pagode Jazz Sardinha's Club realizou um concerto de samba erudito, marcado pelo clima de virtuosismo e descontração. Quem esteve na ocasião pôde também se surpreender com a versão jazzística impecável de "Carinhoso", famoso chorinho composto por Pinxinguinha.

Foto: Marcelo Lyra

Ainda sobrou tempo para o bandolinista Rodrigo Lessa dar um depoimento ao vivo sobre a Mimo e confessar que é um velho fã do Carnaval de Olinda. Confiram: "a Mimo é um festival fantástico. Parabéns à toda produção e equipe técnica. É um grande prazer tocar aqui. Vir a Olinda relembra o Carnaval de 1988 em que nos aventuramos por essas ladeiras."

Cinco orquestras em dois dias

Os fãs de música orquestral no Grande Recife testemunharam um final de semana sem precedentes proporcionado pela MIMO 2011, onde [possivelmente pela primeira vez no Estado] cinco orquestras - sinfônicas e de câmara - apresentaram-se em um espaço de apenas um dia e meio e trouxeram um amplo repertório, que abarcou de Haydn a Laurindo de Almeida, passando por Darius Milhaud e Rossini. Confira aqui um breve resumo dos concertos.

***

A Orquestra de Câmara da Cidade de João Pessoa apresentou-se em Olinda no sábado (10) às 11 da manhã, na Igreja da Sé, com obras de José Alberto Kaplan (Abertura festiva, um releitura de El Salon Mexico de Aaron Copland em que temas nordestinos são trabalhados dentro da estrutura formal da peça do norte-americano), Villa-Lobos (Fantasia para sax alto e orquestra de câmara, tendo como solista o professor Arimateia Veríssimo e que substituiu o inicialmente divulgado Concertino para violino e orquestra de Clóvis Pereira) e Darius Milhaud (suíte Saudades do Brasil, inspirada em bairros e ruas cariocas).

O maestro Carlos Anísio pediu licença de forma bem humorada, "Músico não sabe como começar a falar e quando parar de falar", para fazer as preleções das obras e orientou o público em particular informando os movimentos da peça do compositor francês, que teve contato com Villa-Lobos e a música popular carioca durante a Primeira Guerra Mundial, quando trabalhou como adido diplomático no Brasil.

OCCJP e o maestro Carlos Anísio. Foto: Renato Spencer - Ateliê Santo Lima

Às 16h, na Igreja do Monte, o concerto não foi propriamente o de uma orquestra sinfônica, mas de seus naipes separados. No fechamento oficial das oficinas de instrumentos da Etapa Educativa da MIMO 2011, os alunos de cordas dedilhadas, cordas friccionadas, madeiras e metais apresentaram-se nesta ordem, sob a respectiva regência de Marco César, Nayran Pessanha, Elione Medeiros e João Luiz Areias. Os alunos de metais brindaram o público com obras além do programa divulgado, e o violonista Guilherme Calzavara atuou como solista do Concerto para violão n° 1 de Laurindo de Almeida, ainda no início.

Sempre com a respeitosa atenção das irmãs beneditinas na primeira fila, estava também presente na Igreja do Monte o compositor mineiro radicado na Paraíba J. Orlando Alves, cujo stravinskiano Concerto breve para sopros foi tocado pela segunda vez na MIMO (a primeira, em 2007). Ao lado de Orlando, o  compositor pessoense Marcílio Onofre, um dos mais premiados do país em sua geração.

Prof. Marco César regendo os alunos da oficina de cordas dedilhadas. Foto: Beto Figueiroa - Santo Lima

No Recife, a Orquestra de Câmara de Toulouse tocou às 18h30 na Basílica do Carmo (cuja iluminação preparada pela MIMO enfatizou de forma primorosa o altar-mor do templo) e conseguiu compenetração extrema do público durante as peças de Mozart, Chostakóvitch e Britten.

O estudante de música Lucas de Moura, que estava presente, falou para o Blog da MIMO sobre o desempenho da orquestra e as apresentações da MIMO 2011 que tem acompanhado: "Eu vim pela expectativa de ver uma orquestra de câmara com nível europeu e pelo repertório: [os músicos franceses] são excelentes. Fui antes ao concerto de Ballaké Sissoko e Vincent Segal, de Arthur Verocai, cujos arranjos são muito legais, e de Alex Tassel, e peguei parte do de Arrigo Barnabé".

Foto: Renato Spencer - Ateliê Santo Lima

Na manhã do domingo, a Igreja da Sé lotou novamente, desta vez para o concerto de encerramento do Curso de Regência da MIMO 2011, ministrado por Isaac Karabtchevsky. Mais detalhes, nesta reportagem do Bom Dia Pernambuco.

Preleção de Isaac Karabtchevsky. Foto: Renato Spencer - Ateliê Santo Lima

E, para encerrar a maratona orquestral, a Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte fez lotar a Igreja da Madre de Deus no início da noite do domingo, no Recife Antigo. Para além do destaque dado ao jovem violoncelista Diego Paixão, solista no primeiro Concerto de Haydn, e da Suíte Vila Rica de Camargo Guarnieri, cujo Baião final rendeu o bis, o público entusiasmou-se realmente com Brasil Amazônico, de Dimitri Cervo. Abaixo você vê a íntegra da execução da peça, que rendeu muitos cumprimentos ao compositor após a apresentação. 

 

Philip Glass e Tim Fain: o mestre e o aprendiz em concerto memorável



Crédito: Beto Figueiroa/SantoLima
O pesquisador José Miguel Wisnik conta, em O som e o sentido: uma outra história das músicas, que em uma peça chamada Composição n° 7 (1960), de La Monte Young, a partitura manda sustentar um só som por tempo indeterminado. Essa forma elementar de exposição do que soa aos ouvidos é a característica básica da música minimalista, também chamada de repetitiva, da qual o compositor Philip Glass é considerado ícone. Autor de óperas como Einstein on the beach, Glass, atuando como pianista, mostrou, na noite de sábado (10), na Igreja da Sé, que de básico não tem nada. Aos 73 anos, também se revelou generoso. Ao invés de se apresentar sozinho, preferiu estar na companhia do violinista Tim Fain.

Enquanto o jovem promissor Fain emocionava os espectadores ao tocar os sete movimentos da Partita para violino solo, o preciso dedilhar do americano Philip Glass era de causar espanto. Seja em composições como The Orchard ou The French Lieutenant, um dos maiores músicos vivos, em atividade, ratificou o porquê de já ter conquistado um Globo de Ouro com a trilha do filme O show de Truman, de Peter Weird. Após cumprir o programa do concerto, Glass apresentou, ainda, mais três composições. Uma delas é, inclusive, um dos seus trabalhos mais conhecidos, intitulado Glassworks. Isso só não agradou mais do que ouvi-lo falar o idioma português, em todas as vezes que se dirigia ao público, com a ajuda de uma “cola” preparada, anteriormente, pela produção da MIMO 2011.


Confira parte da apresentação dos músicos Philip Glass e Tim Fain na MIMO 2011:





Jards Macalé em entrevista

Foto: Jean Felipe Souza
Hoje pela tarde no Hotel Sete Colinas, Jards Macalé nos recebeu gentilmente para falar entre outras coisas, sobre o documentário "Canções do exílio: a labareda que lambeu tudo" do diretor Geneton Moraes Neto que foi exibido no pátio da igreja da Sé às 19:00h.

O áudio da entrevista foi dividido de acordo com as perguntas. É só clicar nos links abaixo:

domingo, 11 de setembro de 2011

Gismontipascoal

Foto: Divulgação
A dupla Hamilton de Holanda e André Mehmari são jovens músicos que resolveram encabeçar um projeto recriando composições de dois grandes gênios da música experimental: Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti. Apresentando-se com apenas um piano e um bandolim, eles tomaram pra si a responsabilidade de transmitir toda beleza e complexidade desses dois mestres brasileiros. Intitulado Gismontipascial, o álbum que contém também canções autorais, é um exemplo claro do talento inquestionável desses dois musicistas que representam com espontaneidade e vivacidade o importante legado musical deixado por esses dois consagrados músicos.

Concerto: Hamilton Holanda e André Mehmari
Local: Igreja da Sé
Horário: 20:30h

Alex Tassel agrada público com jazz improvisado



Andre Sampaio/ Santo Lima
Gostar de jazz vai parecer uma tarefa complicada enquanto faltar educação musical na maioria das escolas brasileiras. No entanto, para aqueles que se arriscam, não é muito custoso considerar a dificuldade que é encontrar harmonia em instrumentos, aparentemente, dissonantes. Ou delirar quando os músicos enxugam o suor do corpo, após o clímax de um improviso em uma composição difícil de ser executada. Quem esteve presente no concerto do trompetista francês Alex Tassel, na última sexta feira (09), na Igreja da Sé, deu sinais de que tinha apreço por tudo isso. E saiu de lá bastante satisfeito com a exibição. 

Acompanhado dos músicos Sylvain Beauf (sax), Laurent de Wilde (piano), Julien Charlet (bateria) e Diego Imbert (contrabaixo), Alex Tassel mostrou-se generoso e cedeu, pelo menos, um solo para cada instrumentista. O show apresentava seu último álbum de estúdio, o disco duplo intitulado Heads or tails. Acostumado aos festivais de verão franceses, como o Jazz à Vienne e Django Reinhardt, o músico de 36 anos mostrou-se impecável ao tocar peças musicais como Olex e Merlin. Reconhecido, pela crítica jornalística, como herdeiro do influente compositor americano Miles Davis, Tassel abriu o concerto com um tema que leva o nome do seu mestre, denominado Miles around
.



Andre Sampaio/ Santo Lima

Equipe de Produção da MIMO 2011

Veja quem faz a MIMO ser o festival que é hoje, o único fora da Europa a integrar o hall de festivais da Adami, do qual fazem parte eventos do porte do Jazz in Marciac, do festival Django Renhardt e do Festival de Montreux.

Lú Araújo, Diretora
André Oliveira, Diretor Artístico
Rejane Zilles, Produtora Cine MIMO

Bel Zagury, Produtora
Amanda Barroso, Produtora
Renata Barros, Produtora
Simone Oliveira, Produtora - Adminstrativa
Gilmar Nascimento, Produtor - Administrativo
Sâmia Emerenciano, Produção BASE
Virginia Correia, Produção BASE

Luiza Ratare, Produtora de LOGÍSTICA
Tadeu Gondim, LOGÍSTICA
Lu Bispo, LOGÍSTICA
Meme, LOGÍSTICA
Kaka, LOGÍSTICA

Gisele, AEROPORTO
Mery Lemos, Produtora SÉ
Joli Campelo, Produtora SÉ
Lucas Brandão, Produtor SÉ
Phaedra, Produtora SEMINÁRIO
Júlio Barroso, Produtor SEMINÁRIO
Janaísa Cardoso, Produtor VESPERTINOS
Bruno Negromonte, Produtor VESPERTINOS
Pérola Braz, Produtora RECIFE
Amanda Brindeiro, Produtora RECIFE
Adah Lisboa, Produtora para OSBM
Camila Emerenciano, Estagiária
Carlota, Produtor FESTA
Jorge, Assistente de Carlota

Marcela Reis, Arquiteta
Pezão, Técnico de Som - Recife
Pedrinho, Técnico de Som
Pedro Ivo , Volante
Anderson, Volante
Ester Rolin, Produção JOÃO PESSOA
Fábio Sávino, F. MIMO de CINEMA
Deborah Dumar, Redatora
Cleber, Tradutor | Intérprete
Sr BOLINHO, Piloto

E todos queriam mais...

Um Seminário de Olinda completamente lotado, dentro e fora da igreja, teve a oportunidade de assistir ao que foi, sem dúvida, um dos melhores momentos da Mimo 2011. Engraçado é que a atração da noite já não era nenhuma novidade na programação. Nas oito edições da Mostra, Egberto Gismonti esteve em quase todas. Mas ontem foi diferente.

Com o seu bom humor costumeiro, Egberto aproveitou a apresentação de mais de duas horas de duração para saudar velhos amigos, apresentar ao público o seu filho Alexandre e também presentear a platéia com execuções perfeitas e gentilezas mil.

O show foi iniciado por um duelo entre pai e filho. Egberto e Alexandre travaram um duelo de arrepiar com a música “Mestiço e Caboclo”. Apesar do virtuosismo, tudo parecia ser bem simples. Enquanto Egberto destruía o violão de 14 cordas com uma técnica alucinante, ainda encontrava espaço para jogar sorrisos para a platéia e brincar com Naná Vasconcellos, que acompanhava o concerto da primeira fila da igreja.

Alias, a interação entre Gismonti e Naná foi um capítulo à parte. Primeiro ele ficava sempre trocando olhares e brincadeiras durante as músicas. Depois foi a vez de tentar convencer a filha de Naná, Luz Morena, a fazer uma participação especial tocando a música Água e Luz ao piano. E essa tentativa durou bastante tempo. Ao fim de cada música, Egberto ia ao ouvido de Luz Morena e tentava de alguma forma fazê-la perder a vergonha e acompanhá-lo ao altar/palco. Depois de inúmeras tentativas frustradas, ele decidiu fazer melhor: tocou a música inteira em homenagem à sua pupila (durante a execução, não tirou os olhos da garota nem por um segundo).

Sempre elogiando o festival, o público, seus convidados e a música, Egberto parecia estar em casa. Tanto é que acabou saindo um pouco do que estava programado e contemplou seus fãs com duas participações especialíssimas além do programado (Ana de Oliveira, ao violino, foi a única participação prevista na programação). Primeiro, chamou ao palco André Mehmari. O publicou adorou o dueto ao piano, com direito a execução a quatro mãos. Quando ele anunciou a entrada de Hamilton de Holanda, o Seminário de Olinda quase veio a baixo. Certo do que estava para presenciar, o público aplaudia num misto de entusiasmo e surpresa. E não foi pra menos. O duelo entre o bandolim de Hamilton e o piano de Egberto foi, sem dúvida, o ponto alto do show. Acompanhados atentamente pela igreja lotada, fizeram a festa de todos e abriram o caminho para o encerramento do espetáculo. Ao fim, retornaram ao palco Alexandre Gismonti e Ana de Oliveira para um encerramento belíssimo. Duas horas de show e ninguém ali parecia cansado. Todos queriam mais. Quem sabe no próximo ano!

Talvez alguns detalhes do concerto tenham sido esquecidos por conta de uma súbita amnésia pós festa da Mimo que acometeu os integrantes do Blog. Mais detalhes em breve!

Som mestiço

Foto: Divulgação

O que se pode esperar da apresentação de hoje do Pagode Jazz Sardinha's Club, no Seminário de Olinda, às 19h, é uma homenagem genuína à brasilidade. O repertório do grupo instrumental remete à ideia de mestiçagem tão bem defendida em seu álbum mais recente, o "Cidade Mestiça", lançado este ano. Sua sonoridade passeia entre a sofisticação do jazz e da bossa nova e o molejo de ritmos como o samba e seu ancestral jongo e, claro, o próprio pagode. Assim, tanto os mais leigos como os mais eruditos têm a chance de apreciar o trabalho sem nenhum tipo de constrangimento. Amantes de música brasileira devem ficar atentos para a interpretação singular de "Carinhoso", clássico de Pixinguinha. Como o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira atesta, o Pagode Jazz Sardinha's Club mistura e confunde o global, o local e o periférico, sem desta forma perder o acento brasileiro que lhe é tão característico. Para os curiosos sobre a origem do nome do grupo, trata-se de uma homenagem ao Beco das Sardinhas, ponto de boemia carioca no centro da cidade, especializado na sardinha na brasa.

Concerto: Pagode Jazz Sardinha's Club
Onde: Seminário de Olinda
Quando: hoje (11), às 19h

Cinema: confira a programação da mostra Panorama Brasil para este domingo (11)


A mostra de cinema da Mimo 2011, a Panorama Brasil, está com uma programação impecável para este domingo (11). No pátio do Seminário de Olinda, serão exibidos a partir das 18h os curtas emblemáticos "Orquestra do som cego", dirigido por Lucas Gervilla, e "Vanja, mulher rendeira", de Juliana Major. Já no pátio da Igreja da Sé, às 19h, ocorrerá a exibição do documentário "Canções do exílio: a labareda que lambeu tudo", de Geneton Moraes Neto.

Orquestra do Som Cego. Foto: Divulgação

"Orquestra do som cego" retrata a trajetória da Blind Sound Orchestra, idealizada pelo compositor brasileiro Livio Tragtenberg, que reúne músicos deficientes visuais para se apresentar pelo mundo. Longe de apenas reger uma orquestra tão peculiar, Tragtenberg foi além: nas apresentações, exibe filmes mudos, para os quais a orquestra adiciona ao vivo trilha e efeitos sonoros. O vídeo também registra suas andanças e fala de como uma iniciativa tão interessante se tornou realidade.

Vanja Orico. Foto: Divulgação

"Vanja, mulher rendeira" põe em cena a biografia da artista Vanja Orico, conhecida por interpretar o sucesso "Mulher Rendeira" para o filme "O cangaceiro", de Lima Barreto. Para remontar sua história, o filme recorre a depoimentos de personalidades como Hernani Heffner, diretor de conservação da cinemateca do Museu de Arte Moderna de São Paulo, e Ricardo Cravo Albin, famoso crítico de música popular.

Gilberto Gil. Foto: Divulgação

O longa-metragem "Canções do exílio: a labareda que lambeu tudo" resgata a tentativa da ditadura militar de impedir a consolidação da música popular brasileira. O documentário, realizado por Geneton Moraes Neto, traz depoimentos dos gigantes Caetano Veloso, Gilberto Gil e Jards Macalé sobre a prisão decorrente do AI-5 e o tempo de exílio em Londres. São revelados episódios singulares como o show que Gil, preso, fez para a tropa no quartel.

Lembrando que não é necessário pegar ingresso para conferir a mostra, já que os filmes serão exibidos em telões. O espaço também disponibiliza uma boa quantidade de assentos.

Entrevista - Dimitri Cervo

Foto: retirada do Facebook

Um dos compositores mais tocados nas salas de concerto do país nos últimos anos, Dimitri Cervo (vide biografia) marca presença pela primeira em Pernambuco para acompanhar a execução de sua obra Brasil Amazônico na MIMO pela Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, neste domingo às 18h30, na Igreja da Madre de Deus, no Recife Antigo. Conversamos com Dimitri,  declaradamente influenciado pelo minimalismo e conhecedor da obra de Philip Glass, para saber um pouco mais de suas atividades atuais e da peça a ser apresentada (que você poderá conferir no vídeo abaixo).

1. O que está motivando sua vinda à MIMO? Você já esteve alguma vez em Pernambuco?
Já morei em Salvador, estive em Aracaju ano passado para os trabalhos com a Sinfônica de Sergipe, também conheço Natal e João Pessoa, mas será minha primeira vez aí em Pernambuco! Minha principal motivação é a apresentação de Brasil Amazônico pela Orquestra Sinfônica da UFRN, ainda mais depois das palavras do maestro Andre Muniz [regente titular da OSUFRN] após a apresentação em Natal, dia 01.

"Dimitri: SUCESSO Total a estréia da peça aqui!!!! Público reagiu muito bem e inclusive fizemos um bis com ela!!!! Se no Recife for nessa batida, será fantástico, ainda mais que vc estará la. Parabéns!"

É uma peça que começou bem: estreada pela OSPA e Isaac Karabtchevsky e já com várias apresentações programadas em 2011. Esse ano está excelente, com 31 programações de obras orquestrais [de Dimitri] por 17 orquestras. Na MIMO, pretendo acompanhar a apresentação, assim como a oficina, de Philip Glass, compositor que admiro e com o qual tenho alguma afinidade estética, e também outras apresentações orquestrais, além das aulas de regencia do Isaac.

2. A quais projetos você tem-se dedicado?
No momento finalizei uma missa para coro e orquestra de cordas, que será apresentada em primeira audição no dia 6 de novembro com a Orquestra de Câmara da Ulbra e o Coral da UFRGS. Também finalizei uma obra para violino, viola caipira e cordas, que sera estreada em Cuiabá pelo [violinista] Emmanuele Baldini e a Orquestra de Mato Grosso, além de uma obra para 8 cellos e Flauta que regi no RJ no Rio Cello Encounter. No momento, trabalho em um quarteto de cordas e em um concerto para oboé e orquestra de cordas (Série Brasil 2010 n. 6).

3. Por fim, fale um pouco da sua obra a ser apresentada.
Em Brasil Amazônico temos um quadro orquestral que alude a diversos aspectos da alma e da cultura brasileiras. O tema inicial em terças, lembra as manifestações de música rural, sertaneja e folclórica. Na orquestração temos a inclusão de um pandeiro popular, que alude ao samba. As flautas e o piccolo no registro agudo aludem aos pífanos, pequenas flautas comuns no interior do Nordeste brasileiro. Sem ser programática, a peça expressa o aspecto exuberante, rico e variado da cultura brasileira e é dividida em três seções.

Na primeira seção, os temas principais são apresentados. Na segunda seção, a harpa e as madeiras tomam a cena, metamorfoseando e dando novas luzes às idéias musicais apresentadas, agora em um tom lírico e intimista. Na terceira seção, os temas da primeira seção são retomados e variados, conduzindo a obra para um grandioso final. Brasil Amazônico é a primeira obra da Série Brasil 2000, uma série de obras para diversas forças instrumentais, que já receberam inúmeras audições no Brasil e no exterior.

***

Confira Brasil Amazônico, de Dimitri Cervo, que será tocada pela OSUFRN neste domingo.

Repertório do concerto da Sinfônica da UFRN hoje

Orquestra da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
André Muniz, regente
Solista: Diego Paixão, violoncelo
Igreja da Madre de Deus (Recife), às 18h30

***

Dimitri Cervo (1968-)
Brasil Amazônico
(Confira comentário sobre a obra, feito pelo próprio compositor)

Joseph Haydn (1732-1809)
Concerto n° 2 para violoncelo e orquestra em ré maior

Camargo Guarnieri (1907-1993)
Suíte Vila Rica
* Entrada
* Andantino
* Misterioso
* Scherzando
* Agitado
* Alegre
* Valsa
* Saudoso
* Humorístico
* Baião

Confira um breve comentário sobre as obras nesta mini-matéria com o regente André Muniz.

Entrevista - André Mehmari

Foto: divulgação.

Hoje à noite, o jovem compositor e pianista André Mehmari faz a última apresentação da MIMO 2011 ao lado do bandolinista carioca radicado em Brasília Hamilton de Holanda. Tendo confortável trânsito por entre gêneros musicais diversos, como o jazz, a MPB instrumental e a música clássica, André e Hamilton prestam tributo a dois expoentes brasileiros de longo sucesso internacional: Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti. Antes de sua viagem a Pernambuco, Mehmari concedeu uma breve entrevista ao Blog da MIMO via Facebook. Confira.

1. André, você já esteve em Pernambuco? Como foi e quais suas ligações com o estado (profissionais ou pessoais)? Sim. Estive duas vezes: a primeira lançando o Piano e Voz, disco em parceria com Ná Ozzetti (no belíssimo Santa Izabel) e depois em piano solo na MIMO. Acho que Pernambuco dá uma aula ao país de como preservar suas diversas manifestações artísticas populares de maneira viva e ativa. Sou muito ligado ao frevo e maracatu.

2. Quais músicas você destaca no repertório que será apresentado com Hamilton de Holanda?
Neste repertório só de pérolas imortais dos geniais Hermeto e Gismonti fica difícil apontar uma ou outra favorita. A obra toda é que nos interessa, a história que contamos em uma apresentação de pouco mais de uma hora de música intensa e sincera, feita com alegria, respeito, espontaneidade e rigor.

3. Em que projetos você está trabalhando no momento e quais as novidades que estão vindo por aí? Finalizei no mês passado meu primeiro CD, dedicado totalmente às minhas canções que venho compondo com vários parceiros ao longo dos anos. É um projeto bem grande que me trouxe muitas alegrias: são 15 cantores, 10 letristas e 26 instrumentistas num álbum duplo recheado de melodias e letras bem casadas.

4. Agora o espaço é livre pro que quiser falar.
Quero agradecer a nova oportunidade de voltar a este festival que adoro, que é dos mais bonitos que conheço. E desta vez, poderemos tocar este show Gismontipascoal que já apresentamos em países como Finlãndia, Irlanda, Alemanha, Italia e Bélgica -- mas que no nosso amado Brasil mesmo, temos infelizmente mais dificuldade de tocar.

sábado, 10 de setembro de 2011

Standard até que ponto? [3] - ou: Por que o bê-a-bá?)

Entre os fãs de música clássica, muito se questiona a razão de se empreender tantas gravações de obras já consagradas em prejuízo de outro sem-número de obras-primas que ainda não chegaram a se consolidar nos programas regulares das salas de concerto. Por tabela, o questionamento também se aplica aos conjuntos musicais que ocupam a maior parte da programação anual com o repertório standard, chegando estes a repetir certas partituras por alguns anos seguidos. Acontece que, em contrapartida, todos os grandes regentes e instrumentistas são medidos e avaliados pelo domínio de execução das obras canônicas, seja pela capacidade de evidenciar da melhor forma possível toda a expressão e arquitetura dessas obras, seja pela percepção para ressaltar aspectos e nuances pouco percebidos nas interpretações convencionais. Essa é a chave principal para observar a execução de peças como as do repertório de hoje, trabalhadas ao longo da semana no Curso de Regência da MIMO 2011.

Orquestra Sinfônica de Barra Mansa e maestros selecionados
Seminário de Olinda, às 11h deste domingo

***

Beethoven
Abertura Leonora III

Rossini
Abertura da ópera O Barbeiro de Sevilha

Liszt
Os Prelúdios

Tchaikóvski
Sinfonia n° 4

***

O ministrador do curso
Isaac Karabtchevsky é o regente mais lembrado em qualquer recall informal entre o grande público apreciador de música clássica. Chegou à Petrobras Sinfônica em dezembro de 2003 e executou a integral das sinfonias de Tchaikovsky e das Bachianas Brasileiras de Villa-Lobos em 2004. A partir do ano seguinte, iniciou o Ciclo Mahler, que completará a execução das dez sinfonias do compositor austríaco em 2008. Regeu a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA) entre 2003 e 2010 e a Orchestre Nationale des Pays de la Loire, em Nantes, França, entre 2004 e 2009. Passou nos anos anteriores pela Sinfônica do Teatro La Fenice, de Veneza, a Tonkunstler Orchester de Viena, a Orquestra do Teatro Municipal de São Paulo e a Sinfônica Brasileira. Atualmente, além da Petrobras Sinfônica, dirige a Orquestra Sinfônica Heliópolis, do Instituto Baccarelli.



Depoimento - Dimitri Cervo


Foto: Débora Zandonai

"Estou impressionado com a Mimo 2011. Não imaginava que o evento fosse dessa magnitude, tão organizado. O porte da Mimo tem uma dimensão enorme. Os voluntários fazem a diferença. Acho a iniciativa extremamente louvável, não só de trazer música clássica, mas outras formas de arte menos acessíveis. Dessa forma, consegue promover a democratização de várias manifestações culturais."

Dimitri Cervo é compositor e pianista e tem 30 programações de obras por 16 grupos orquestrais, dentre os quais a Camerata Antiqua de Curitiba, a Petrobrás Sinfônica, a Orquestra de Câmara da Ulbra, dentre outros. No domingo (11), terá sua composição "Série Brasil 200 n. 1 - Brasil Amazônico" executada pela Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O concerto acontece na Igreja da Madre de Deus, em Recife.

Gotan Project transforma Praça do Carmo em pista de dança


Beto Figueiroa/SantoLima
Esqueça, por um momento, o dramático joguinho amoroso na dança do gênero tango. Rostos virados, sem se fitarem, nada disso. Quem foi conferir a apresentação da banda Gotan Project, na última quinta-feira (08), na Praça do Carmo, provavelmente sentiu-se em uma pista de dança. O envolvente eletrotango, mistura do tradicional ritmo argentino à música eletrônica, surtiu efeito no público: olhos fixados na performance do grupo, nas projeções gráficas do cenário ou na paquera ao lado. A expectativa em torno da exibição do conjunto, digna do status de principal atração da MIMO 2011, foi recompensada.


Revolucionar o fazer artístico do gênero a que pertence é o mérito do trio, formado pelo francês Philippe Cohen Solal, o argentino Eduardo Makaroffe e o músico e programador suíço Christoph Muller. Seja em composições como Uma música brutal ou La gloria, não faltou sensualidade durante toda apresentação. Contudo, o som dos instrumentos bandoneon, violão e violino traziam, aos espectadores, a singularidade harmônica da cadência portenha. Deu tempo ainda de um estudante chileno subir no palco, carregando a bandeira do seu país. Neste ano, uma série de protestos vem acontecendo lá, por reformas no sistema de educação. Acontece.


Confira o vídeo que o Blog da MIMO 2011 fez de parte da apresentação:





Ingressos para Egberto Gismonti

Pessoal, os ingressos para o show de Egberto Gismonti e Alexandre Gismonti já estão esgotados, mas ainda dá pra assistir ali do pátio externo da Igreja, onde a Mimo instalou um telão e colocou muitas cadeiras. O espaço é excelente e o som também. Vale a pena!

Cinema: Confira a programação deste sábado (10) da mostra Panorama Brasil

A Panorama Brasil, a mostra de cinema da Mimo 2011, apresenta hoje três filmes sobre as diferentes manifestações musicais e seus papéis na história da cultura.

Cena de "À sua imagem e semelhança". Foto: Thiago Lira

No pátio do Seminário de Olinda, a partir das 18h, tem início as exibições dos curtas "É muita areia pro meu caminhãozinho", dos paulistas Ana Paula Guimarães e Eduvier Fuentes Férnandez, e "À sua imagem e semelhança", do pernambucano Thiago Lira.

É MUITA AREIA PRO MEU CAMINHÃOZINHO
Trecho de "É muita areia pro meu caminhãozinho". Foto: Divulgação

O primeiro faz uma viagem aos Lençóis Maranhenses para mostrar a riqueza musical de um povoado, com suas cantigas, festejos e folclore. Por meio deles, temos a chance de perceber o valor da música na trajetória cultural de uma comunidade. Já o segundo, vem levantar um tema inédito no Recife: o universo das bandas covers. Como dito anteriormente, Thiago Lira entrevistou os recifenses Thammy Spears, que interpreta músicas de Britney Spears, Tíberio Azul, da banda Seu Chico, China, ex-vocalista da banda Del Rey, e a banda paulista Beatles 4Ever. O documentário esmiuça as condições do mercado de bandas cover e discute a definição do termo, sem pretender chegar a uma conclusão.

Clementina de Jesus. Foto: Divulgação

O pátio da Igreja da Sé abrirá espaço às 19h para a exibição do média-metragem "Clementina de Jesus: Rainha Quelé", de Werinton Kermes. Por meio de depoimentos de nomes como Paulinho da Viola, João Bosco e Paulinho Vergueiro, o filme fala da importância de Clementina de Jesus para a história do samba e da música brasileira em geral.

Lembrando que não é necessário pegar ingresso para assistir aos filmes da mostra. Os vídeos são exibidos em telões, com muitas cadeiras disponíveis no espaço.

Sonoris Fábrica

Tava devendo um vídeo do showzaço do Sonoris Fábrica. Aí está...

Daniel Gortler para ninguém botar defeito


Foto: Beto Figueiroa

A apresentação do pianista Daniel Gortler nesta sexta lotou a Capela Dourada de admiradores e leigos interessados em apreciar o universo aparentemente hermético da música clássica. Seu repertório ateve-se aos românticos Schumann e Mendelssohn, intercalando obras de cada um. No total, foram três obras mais um bis reproduzidas com maestria ao piano, que variavam entre o lúgubre e o alegre. 

Foto: Beto Figueiroa

A Capela Dourada pareceu o ambiente perfeito para abrigar esse concerto. As igrejas, lembremos bem, são locais de reverência a autoridades divinas do catolicismo, onde é necessário seguir uma liturgia específica. Os concertos não são nem um pouco diferentes na formalidade e decoro. A orquestra ou o intérprete são representantes de uma arte maior, canonizada pela história. O público, por sinal, soube se comportar muito bem e respeitar a etiqueta dos concertos. Ao invés de bater palmas ao fim de cada movimento, os aplausos apareceram apenas no final de cada obra.

Foto: Beto Figueiroa

Questão levantada anteriormente pelo próprio blog, Daniel Gortler não parece trazer exatamente uma inovação na sua forma de executar artistas consagrados ao piano. Ele, a rigor, se esforça - e consegue - para trazer ao público uma experiência impecável. Se não é possível esperar algo de incomum, também não se pode colocar defeito em sua técnica, capaz de arrancar sinceros elogios da plateia.

Pra ir aquecendo

Está se preparando pra sair de casa rumo ao Seminário de Olinda? Então vai aquecendo os ouvidos aí...

O lobisomem de Olinda

Quem tem ido pros shows da Mimo 2011, provavelmetne já deve ter esbarrado com uma figura diferente. É uma pessoa fantasiada de alguma coisa não identificada (um monstro) que segura uma faixa com escritos que dizem algo do tipo: "Acesse o yutube (sic) e assista ao clipe O Lobisomem de Olinda". Eu já tinha passado por ele algumas vezes, mas nunca tinha parado pra ler exatamente o que estava escrito. Ontem fiz isso e agora eu facilito o trabalho de você. Aí está o vídeo que ele tanto queria divulgar. Bem criativo o cidadão!

Culto aos maestros


Foto: Renato Spencer

A apresentação do Projeto Coisa Fina ontem foi uma verdadeira festa. Muito animados e cheios de vontade, os jovens músicos paulistas arrebataram o público no Mosteiro de São Bento na homenagem à Moacir Santos.


Ao iniciar o concerto com Coisa n° 2 seguida de outras melodias do álbum mais aclamado do maestro, o contrabaixista Vinícius inicia então uma breve apresentação da banda e de como ela surgiu. Contou ele que se depararam com a obra do pernambucano pela primeira vez enquanto estava no carro do parceiro e coordenador do projeto, Daniel Nogueira. Os dois ficaram maravilhados com o que ouvia e a cada música a emoção só aumentava, mas não passou disso. Anos mais à frente Daniel ligou para o amigo Vinícius e propôs um trabalho em homenagem à Moacir Santos que imediatamente foi aceito pelo colega. Lembrou ainda que antes do Projeto Coisa Fina eles já estavam apaixonados e mergulhados no ritmo pernambucano, fazendo parte de um grupo de Maractu de baque virado lá mesmo em São Paulo.


Apresentações à parte, o grupo deu sequencia ao show com a vibrante e percussiva "Maracatucutê" que fez o público balançar e continuou com "April Child", ambas ainda do Moacir.


Mais uma vez eles tomam o microfone para falar que além do Moacir eles queriam homenagear outros compositores mais populares e anunciaram a próxima canção: um choro do mineiro Mozar Terra chamada "Ascenção". Outro compositor e arranjador J.T. Meirelles, bastante prestigiado no meio artístico por fazer os arranjos de vários discos do Jorge Ben, foi também homenageado pelo conjunto com "Quinta Essência".

Foto: Renato Spencer
Ao término do concerto, anunciaram a última canção seguindo a ideia de homenagens e iniciaram "Assanhado" de Jacob do Bandolim. Mas o público ainda queria mais e eles voltaram pro bis, antecedida por uma história sobre as dificuldades enfrentadas por Moacir Santos e sobre suas rezas evocando o Deus dos músicos: "Gandavers". E para ele, o maestro compôs "Amalgamation", encerrando as apresetações do projeto com louvor.

Delicadeza e Sensibilidade

Egberto Gismonti é uma das grandes figuras da Mimo. Sempre presente nas programações, ele costuma surpreender o público ao apresentar repertórios, arranjos e formações sempre diferentes. E esse ano, deve fazer o mesmo. Pra começar, trouxe seu filho, Alexandre Gismonti, a tiracolo. Isso, por si só, já merece um destaque já que Alexandre é um virtuoso em seu instrumento, o violão. Como se não bastasse, ainda contará com a participação especial da violinista Ana de Oliveira, fechando o trio. Podemos então esperar um concerto de muita delicadeza e sensibilidade onde o equilíbrio entre o virtuosismo técnico e a sensibilidade estética será o ponto alto. O concerto acontece hoje, às 19:00, no Seminário de Olinda. Os ingressos podem ser retirados com uma hora de antecedência na Biblioteca Municipal de Olinda, na Praça do Carmo.

O som daqui, o som do mundo

André Sampaio / Santo Lima

Único pernambucano entre todos os artistas e grupos que se apresentam na Mimo desse ano, o Sonoris Fábrica deu ontem uma aula de versatilidade no Seminário de Olinda. Com integrantes cujas influências oscilam entre o armorial e o jazz-rock, o quarteto liderado pelo violinista Sérgio Ferraz conseguiu lotar a igreja e arrancar aplausos de um público formado predominantemente por jovens. E eles deram aula, explicaram as composições, falaram sobre as inspirações para compor e ainda por cima deram um show de técnica e entrosamento.

Apresentando o repertório do seu novo álbum, homônimo, o Sonoris Fábrica passeou entre ritmos regionais como o frevo, o maracatu, o xote e o baião, variando entre pegadas mais jazzísticas, mais regionalistas ou com mais groove. Ainda contou com o toque ibérico do flamenco, presente na música Tango Flamenco, do violonista Leonardo Mello.

Para quem esperava algo parecido com o trabalho que Sérgio Ferraz desenvolve com Joca Madureira, foi uma surpresa. Apesar das influências serem as mesmas, no Sonoris, Sérgio deixa transparecer o seu lado mais suingado, ficando livre para confundir o público entre a definição de um jazz com sotaque ou um baião “agringalhado”.

Um dos momentos mais fortes da apresentação é quando tocam a música de autoria de Leonardo Mello, A feira. Durante os doze minutos de duração, os quatro componentes se revezam como solistas e podem “se amostrar” um pouco. Ao fim do concerto, fica aquela sensação de que o bairrismo pernambucano, tão exaltado em alguns momentos, não existe na Mimo. O Sonoris Fábrica não está ali apenas para representar o Estado. Aliás, uma das melhores características da música apresentada nos palcos da Mostra é que ela não é marcada pela localização geopolítica, mas pela qualidade estética e relevância cultural. Quando o som é bom, não importa se é pernambucano, paulista, francês ou malês. E todos ganham com isso.