sábado, 4 de setembro de 2010

Egberto Gismonti em imagens

Algumas fotos tiradas durante o concerto de Egberto Gismonti e Orquestra de Sopros da Pro Arte.


Fotos: Rafael Moura

Cores


Foto: Rafael Moura

Durante o concerto de Egberto Gismonti com a Orquestra de Sopros da Pro Arte, uma aspecto chamou bastante atenção. Quem esperava ver os músicos vestidos com toda a pompa e elegância costumeira se assustou ao ver o show de cores e roupas despojadas que compunha o guarda-roupas da jovem orquestra. Gismonti não ficou atrás e subiu ao palco com o seu tradicional lenço vermelho na cabeça. Uma bela imagem a ser apreciada junto à música.

Uma bela homenagem

Foto: Rafael Moura


Início de noite em Recife e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (Igreja Rosário dos Pretos) já estava lotada. Uma multidão esperava o início do concerto. Uma multidão dentro da igreja e uma grande fila do lado de fora, com esperança de entrar. Para contornar o problema de super-lotação a produção do evento achou uma alternativa interessante: tirou todos os jornalistas que estavam dentro da igreja e os colocou num piso superior. Com o espaço desocupado pelo pessoal da imprensa mais alguns felizardos puderam curtir o espetáculo lá de dentro da igreja. Enquanto isso, os jornalistas foram acomodados num espaço que permitiu assistir à apresentação confortavelmente.

Em seguida, Gismonti, com muita simpatia, foi chamado ao palco e começou o concerto dando uma breve explicação. "Estou aqui mais uma vez por dois motivos: o primeiro motivo do meu retorno é a própria MIMO, Mostra de música que eu gosto bastante. O segundo é a oportunidade de prestar uma homenagem à ex-diretora da orquestra, falecida em julho deste ano, Tina Pereira.

Como regente, Gismonti comandou a Orquestra de Sopros da Pro Arte com entusiasmo e emoção. Uma bela homenagem que seria, sem dúvida alguma, aprovada por Tina Pereira.

Cena Armorial

Parecia a cena de um dos Autos de Ariano Suassuna. E a história se passa no Centro Histórico de Olinda, com todas as suas cores e formas. A igreja¹ é aberta para a entrada do público. Numa tarde atípica, os que estão ali presentes não necessariamente são cristãos ou fiéis. O interesse naquela tarde não é a adoração, mas a apreciação de um concerto sinfônico. A cidade inteira está em festa e o palco é o altar. Num momento de espera, enquanto os 60 músicos da orquestra² não sobem ao palco sagrado, duas senhoras se aproximam da igreja e, como se ignorassem toda a movimentação, se ajoelham e começam a rezar. Ao lado delas, um casal de jovens tatuados conversa como se nada estivesse acontecendo. É a imagem da união entre sagrado e profano. Cada um respeitando os limites do outro e convivendo em harmonia.

A apresentadora do espetáculo inicia sua locução com uma breve introdução do concerto. Entram os músicos. Começa a execução da primeira peça, vem a segunda e, como por força do acaso, a trilha sonora³ não poderia ser mais adequada. Tudo naquela tarde é banhado pelo armorial.

1 - Igreja da Sé
2 - Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
3 - Sinfonia em Quatro Movimentos, Danilo Guanais (Homenagem a Ariano Suassuna)

O quase lugar-comum

Existem diversas formas de demonstrar os mais variados sentimentos. O amor, talvez o mais retratado entre tantos, está quase sempre ligado à dor da despedida, ao sentimento não correspondido ou à traição. Na literatura, na pintura ou em qualquer manifestação artística – e, sobretudo, na música –, o amor passa do drama pessoal ao caráter universal e impositivo quando encarado como inevitável e comum a todos. O romantismo alemão, crítico em relação ao racionalismo excessivo do iluminismo francês, está repleto de representações do amor e utiliza-se de algumas figuras um tanto clichês para expressar tal sentimento. A rosa, a flor, o sagrado matrimônio, entre outras imagens, são recorrentes nas obras da época. Mas é exatamente aí que reside a genialidade de um artista: conseguir articular verdadeiros lugares comuns com um tema aparentemente esgotado e ainda assim criar algo capaz de resistir ao tempo a ponto de se tornar um clássico. É aí que reside a genialidade de Schumann.

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Fernando Portari, Rosana Lamosa e Louis Steuerman hoje, às 19:00, no Seminário de Olinda.

Sem desculpas!

Aos que não conseguirem ingressos para os concertos da MIMO, não se preocupem: do lado de fora das igrejas há um telão devidamente instalado onde são exibidos os concertos ao vivo e com um som impecável. Não é como estar dentro da igreja, mas o local é muito agradável, ventilado e com cadeiras para você assistir com todo o conforto.

E quem ainda tentar usar a desculpa de que não vai porque se perde pelas ladeiras do centro histórico de Olinda, veja abaixo o mapa!

Ensaio visual reflete sobre origem da música


Se preferir assitir de casa o curta na íntegra

Fronteiras do Pensamento

A cada nota de piano uma transformação. Da música surgem idéias, concretizadas (ou não) através de caminhos, possibilidades, passos e pelo tempo. É partir desse mote, guiado pela diretora Camila Gonzatto, que uma grande questão é esclarecida pelo compositor americano Philip Glass. Com mais de 65 anos de experiência em Música, ele sentencia: "De onde vem a música não é a pergunta mais adequada, precisamos saber de fato o que é Música". As respostas não são exatas, mas apontam a experiência musical como sendo uma espécie de língua de troca. Uma verdadeira maneira que romper com barreiras de comunicação e convivência.

Festival Mimo de Cinema - Sessão de Curtas
What are you looking for?
Data: 04/09/2010
Hora: 18h (logo após a exibição de "Procurando Jorge Mautner")
Local: Seminário de Olinda (Olinda/PE)

Mais sobre Philip Glass
Ele foi colaborador de artistas como Allen Ginsberg, Woody Allen e David Bowie e compôs, entre outras obras, Days and Nights in Rocinha, em 1997, escrita após visita à favela carioca.

Entrada para Concertos em Recife e João Pessoa

Pessoal, excepcionalmente em Recife e João Pessoa, os concertos NÃO precisarão de senhas para serem assistidos. Os espaços têm entrada aberta ao público, sujeitos à lotação. Portanto, fiquem atentos e cheguem cedo mesmo assim, porque haverá uma fila indiana na entrada das igrejas.

Filme aborda dificuldade de contato com músicos

Jorge Mautner é fio condutor do curta

Artistas: procuram-se!

Curta sobre música realizado por um cantor e compositor já merece um certo crédito. Ainda mas quando a matéria-prima do roteiro faz parte de sua rotina, e quando o detalhe no enfoque é bem humorado e se aproxima de sensações também vividas por simples mortais, longe de bastidores de produção. Foi com esse toque que o diretor Rodrigo Bittencourt propôs Procurando Jorge Mautner, um misto de documentário e ficção, inspirado pelo For Fake do americano que dirigiu Cidadão Kane, Orson Welles. No filme, o destaque realmente são os obstáculos, as dificuldades em se encontrar com o objeto, o compositor Jorge Mautner.

Festival Mimo de Cinema - Sessão de Curtas
Procurando Jorge Mautner
Data: 04/09/2010
Hora: 18h (logo após a exibição de "Música.BR")
Local: Seminário de Olinda (Olinda/PE) Saiba onde fica

Mais

Curta debate influência da internet nos rumos da música

No meu ipod o dj sou eu

Músicos, produtores, jornalistas e consumidores de música, como anda a relação desses atores na nova (e sempre contínua) renovação do mercado fonográfico atual? (se é que essa concepção de mercado ainda faz sentido). Em tempos de internet, o cantor Carlinhos Brown, o produtor Alexandre Lins, o compositor Tenisson Del Rey, o jornalista Bruno Nogueira buscam mostrar, através do documentário de 14 minutos, novas possibilidades nessa impressionante guinada ocorrida na relação da música nas novas mídias e em outros espaços menos convencionais.

Ficha Técnica
Direção Fabiano Passos Som Direto Israel Carneiro, Gabriel Dominguez Trilha original Gabriel Dominguez Câmera Emerson Santos, Israel Carneiro Assistente de Direção Camila Loureiro Finalização Emerson Santos, Diogo Campos Direção de Fotografia Emerson Santos Mixagem Fabiano Passos Montagem Diogo Campos

Festival Mimo de Cinema - Sessão de Curtas
Música.BR
Data: 04/09/2010
Hora: 18h
Local: Seminário de Olinda (Olinda/PE) Saiba onde fica

Mais

We like to play...

Sempre há quem discorde da genialidade de um artista. Seja por gosto, falta de conhecimento ou por birra mesmo, poucos são os compositores ou instrumentistas que obtêm a unanimidade da crítica especializada ou não.

Egberto Gismonti parece ser um desses poucos. E para reforçar esta tese, apresento abaixo um vídeo encontrado no youtube onde Paco de Lucia e John McLaughlin tocam, juntos, a música Frevo, de autoria de Gismonti. Jazz e flamenco a serviço da música brasileira.




A música Frevo também será apresentada hoje pelo próprio Gismonti na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, em Recife.

Mestre Gismonti

Frevo, Maracatu, Karate, Água e Vinho, Eterna, Palhaço na Caravela. Não importa qual seja a composição escolhida, uma coisa é certa: o virtuosismo e a inventividade do multi-instrumentista e arranjador Egberto Gismonti – seja no violão de 10 cordas, no piano de cauda ou em qualquer instrumento por ele escolhido – será sempre suficientemente genial para surpreender e encantar o mais calejado ouvido. Se para completar o repertório ainda sobrar espaço para a execução de uma das nove Bachianas Brasileiras de Heitor Villa-Lobos, então o espetáculo está fechado. Some-se a isso o acompanhamento de uma jovem orquestra de sopros que vem se destacando pelo rigor técnico e artístico a cada nova apresentação. Não dá para explicar. É sentar, acomodar-se e aproveitar, atento à rara oportunidade.

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Egberto Gismonti e a Orquestra de Sopros da Pro Arte, hoje, às 18:30, na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos/Recife.

O Sonho não acabou



"Vocês também têm o direito de sonhar". Falou ao microfone Luiz Bueno entre uma canção e outra executada na MIMO ontem. A igreja seminário de Olinda foi palco de um verdadeiro espetáculo proporcionado pela dupla. Ao som de seus vários violões, eles tocaram Beatles com a propriedade de quem conhece e domina por completo seus instrumentos e foram além das expectativas, transitando entre acordes mais sublimes aos mais dramáticos.


Interagindo bastante com o público, a dupla esbanjou simpatia, contando episódios inusitados sobre sua trajetória e a paixão pelos Beatles. Entre elas, Luiz pede a atenção do público ao apresentar um de seus tantos violões que fora criado pelo músico sambista Garoto (1915-1955), um instrumento de 4 cordas chamado de violão-tenor, criado para ser utilizado nas rodas de choro.

Dando sequência ao show, um dos momentos de maior interação, a dupla explica que até 1965 o quarteto britânico tinha tendência à músicas country e folk, concluindo que o som feito por eles naquele período poderia ser comparado a um autêntico sertanejo brasileiro. Alguém iria duvidar? Para comprovar que não estavam falando bobagem, a dupla antecipa o que acabara de falar, anunciando as músicas Here comes the sun e Mr. Moonlight.

Chegando aos instantes finais da apresentação, a dupla brinca com as músicas informando que aquele era o encontro entre os Beatles e a Duofel, momento onde demonstraram uma grande versatilidade ao tocar seus instrumentos. Fernando afina o violão para soar como um contra-baixo (instrumento que tocava antes, inspirado pelo Paul Mccartney), enquanto Luiz faz do seu um violoncelo, deslizando o arco sobre ele. Muita emoção ao ouvir os apelos dos primeiros acordes de Strawberry fields forever.

Um espetáculo lindo de ver e ouvir, arrebatando os corações daqueles que se faziam presentes no Seminário de Olinda, redescobrindo de maneira única e original, canções do quarteto de Liverpool que ultrapassaram décadas, mas que continuam listando o topo das grandes obras musicas feitas até hoje.

Uma nova geração de ciganos

20h30 - Selmer#607 (França) | Igreja da Sé (Olinda)

Na França dos anos 1930, um certo cigano causava furor com seu violão Selmer#503. Seu fraseado incendiário, seu balanço inveterado e sua versatilidade infinita o imortalizaram: era Django Reinardt. Fora ele o responsável por elevar o violão do mero acompanhamento à posição de solista no jazz. Virou lenda e inspira até hoje músicos de todos os cantos com o seu jazz manouche. Atentos a essa tradição, mas sem negligenciar o novo, os jovens membros do coletivo Selmer#607 levam adiante essa linguagem. No repertório montado para a MIMO 2010, os músicos brindam o público com clássicos como Minor Swing, um famoso tema de Django marcado pelo balanço irresistível onde o solista se refestela em sua hamonia aconchegante. Já a modal Impressions, de John Coltrane, é desprovida de seu verniz hard bop para ganhar uma roupagem totalmente focada na pegada manouche com improvisos de tirar o fôlego. Enfim, uma apresentação que promete surpreender aos que não perdem a chance de redescobrir o passado.

Continuação

Lenine é, sem dúvida, um dos mais respeitados artistas pernambucanos da cena atual. E parte daí a importância do documentário Continuação, do diretor e jornalista Rodrigo Pinto, apresentado hoje, às 20:00, no Mercado da Ribeira. Como se não bastasse a história e a intimidade do pernambucano, exposta de uma maneira bem humorada e espontânea, o documentário ainda traz algumas reflexões sobre o início da carreira, a cadeia produtiva da música e os desafios do artista contemporâneo frente às novas tecnologias de produção e distribuição dos bens culturais, além das mudanças nas práticas de consumo geradas pela internet. A dúvida de Lenine parece resumir em parte a dúvida do meio artístico em geral que vê uma parte de suas bases econômicas serem quebradas de uma hora para a outra sem a criação imediata de alternativas viáveis.

As gravações, realizadas durante o período de produção do CD Labiata, trazem uma oportunidade única para quem quer conhecer um pouco mais da vida e da obra de Lenine, além de apresentar com clareza e poesia os pensamentos que norteiam o cotidiano do cantor.

"Quando você não se diverte, há a grande possibilidade de não se lembrar com carinho daquilo que fez". A frase-síntese do seu pensamento demonstra o prazer com que trata a profissão que o fez desistir de um curso universitário e de uma vida em Recife para se mudar para o Rio de Janeiro. As conversas com os músicos e com os pais, ou os momentos em que Lenine parece conversar diretamente com seus expectadores revelam o quão divertida é a sua vida pessoal e profissional, o quão acertada foi sua escolha e parece indicar que boas lembranças surgiram das experiências vividas.

Cinema mudo é acompanhado por pianista na Sé


Veja a controversa cena do estupro

Sons do silêncio

É no pequeno gesto que o Cinema Mudo se engradece, ainda mais ao som do piano como suporte simbólico. Essa é a proposta do Ciclo de Cinema Mudo da Mostra Mimo de Filmes. Diante da tela, clássicos da década de 20; próximo à plateia o acompanhamento simultâneo do pianista da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Cadu Pereira.

Certo que a dimensão estética do espaço de exibição, no largo da Igreja da Sé, em Olinda, favorecerá e muito o entretenimento dos visitantes com as aventuras e fantasias exóticas de 68 minutos, da continuação de “O Sheik”, lançado em 1921. Em "O filho do Skeik", gravado cinco anos depois, Rudolph Valentino, surge como Ahmed, o filho de um sheik argelino que se apaixona pela bailarina Yasmin (Vilma Banky), participanete de uma trupe de saltimbancos e ladrões. É com esse envolvimento, como pano de fundo, que emergirão as lutas de espadas e danças do ventre, elementos que vão compor a bem articulada fantasia oriental, produzida em pleno deserto do Arizona por George Fitzmaurice.

De fato "O filho do Sheik" convence em seus resultados. A idéia do duplo em Valentino, por exemplo, é interessante de se notar, e os pontos cômicos do filme, com destaque para o criado psicótico de Ahmed, acabam por agradar e muito os admiradores de clássicos como este.

Ficha técnica
Direção George Fitzmaurice Roteiro Frances Marion Fred de Gresac George Marion Música Gerard Carbonara Artur Gutmann Produção John Considine Atores Rudolph Valentino Vilma Banky Agnes Ayres

Festival Mimo de Cinema - Ciclo de Cinema Mudo
O Filho do Sheik
Data: 04/09/2010
Hora: 19h
Local: Igreja da Sé (Olinda/PE) Saiba onde fica

Mais

Documentário mostra panorama de 60 anos do rock brazuca


Veja um trechinho de 5 minutos do doc

De Erasmo a Mallu Magalhães

Para alguns a colagem das imagens e depoimentos, de tão intensa, chega a ser um pouco cansativa, mas para tantos outros o documentário de 67 minutos do roqueiro de carteirinha Bernardo Palmeiro, lançado em 2009, pode ser encarado como um verdadeiro mosaico de 60 anos de rock brasileiro.

Os registros em vídeo capturam desde Robertão e Erasmo Carlos, passando por Secos & Molhados, Mutantes e Blitz! até os mordeninhos NX Zero, Fresno e CPM 22. Sem esquecer é claros das divas e onipresentes coqueluches internéticas: Cansei de Ser Sexy (CSS) e Mallu Magalhães, que conseguiram espaços impensáveis na indústria (ou não) fonográfica internacional e nacional, através do canal (dito por uns) mais democrático até então existente: o Youtube.

Nessa trajetória do rock brazuca, nada de ode ao "fortalecimento do ingrediente brasileiro" e "regionalismo por regionalismo": cantoras como Pitty e grupos como Nação Zumbi demonstram que a autenticidade e inovação ultrapassam as (talvez) simples e previsíveis barreiras geográficas e estéticas da música.

Ficha técnica
Direção e Fotografia Bernardo Palmeiro
Roteiro Kika Serra

Festival Mimo de Cinema - Mostra Zona Subterrânea
Longa: Rock Brasileiro – História em Imagens
Data: 04/09/2010
Hora: 17h50 (logo após o curta "A maldita")
Local: Mercado da Ribeira (Olinda/PE) Saiba onde fica

A Sinfonia em quatro movimentos de Danilo Guanais, nas palavras do próprio compositor

Hoje na Igreja da Sé, às 16h30, a Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte apresentará a Suíte Miniatura do compositor paranaense Alceo Bocchino, decano dos compositores de música clássica brasileiros, no alto de seus 92 anos de idade.

Em seguida, será apresentada a peça principal do programa, a Sinfonia em quatro movimento de Danilo Guanais, que requer não só um aparato orquestral como também cênico para sua execução. Convidamos o compositor potiguar para falar um pouco de sua obra especialmente para o Blog da Mimo.

***

A Sinfonia em quatro movimentos (que chamo agora de Primeira Sinfonia) foi escrita entre 2000-2002 como obra final do meu mestrado em Composição na Unicamp. Sua estréia se deu em 2003 e ela foi novamente reapresentada integralmente em maio de 2004. Não existem gravações comerciais dessa obra.

A Sinfonia foi composta para um grupo grande de músicos, envolvendo os naipes normais da orquestra sinfônica e incluindo uma harpa e um piano, um grande aparato percussivo e um plano de luz específico, grafado em partitura. Um coro misto e quatro atores completam o conjunto da obra.

O texto foi construído com base no "Livro de adão e Eva", um apócrifo anterior à Idade Média. Dele foram retiradas as seções que tratam da expulsão de Adão e Eva do Jardim e dos sentimentos envolvidos na expulsão. Quatro personagens integram a dramaturgia do texto: O Narrador, que fala no primeiro e último movimentos; Deus, que fala no segundo e terceiro movimentos; Adão e Eva, que falam no segundo movimento.

Para a construção definitiva do texto, escolhi alguns poemas de Ariano Suassuna, de forte conotação simbólica, que se associam ao texto apócrifo de uma maneira surpreendente. Os poemas de Suassuna são sempre cantados pelo coro.

Musicalmente, a Sinfonia envolve procedimentos de composição aparentemente inconciliáveis, como Serialismo, Minimalismo e Cultura Popular. Esses elementos aparecem superpostos em toda a partitura. Da Cultura Popular norte-rio-grandense foram trazidos os Cabocolinhos e as Incelenças (como temas incidentais para Adão e Eva).

Essa conciliação entre diferentes linguagens na composição é o tema do meu doutorado, que desenvolvo atualmente no Rio de Janeiro, na Unirio, e que concluirá com a composição de uma Paixão de Cristo, com textos meus, do Evangelho de Marcos e de José Saramago.

Danilo Guanais

Mostra de Cinema da Mimo traz documentário sobre rádio revolucionária


Jovem não é idiota

Esse era o mote da programação da extinta Fluminense FM, rádio concebida em 1981 pelos jornalistas Samuel Wainer Filho e Luiz Antonio Mello. Tendo sua história projetada no curta feito em película de 35 mm, com duração de 20 minutos, a diretora Tetê Mattos mostra imagens de época e vários depoimentos de artistas e profissinais que passaram pela "A maldita". Uma rádio que revoluciou bastante, desde da abertura do espaço de divulgação para artistas como Paralamas do Sucesso, Lobão, Dado Villa-Lobos e Evandro Mesquita até pela inclusão de programas comandados interiramente por narradoras femininas.

Pela ousadia no retrato, o vídeo foi reverenciado no Festival de Curtas do Rio, em 2007, com o Prêmio do Júri Popular. Assim, mesmo para os menos adeptos ao rock dos anos 80, acompanhar o processo de reversão da ordem estabelecida, forte bandeira encampada pela Fluminense, pode ser uma boa pedida.

Ficha Técnica
Direção Tetê Mattos Produção Izabella Faya Fotografia Alex Araripe Roteiro Tetê Mattos Depoimentos Luiz Antonio Mello, Sergio Vasconcellos, Amaury Santos, Monika Venerabille, Selma Boiron, Milena Ciribelli Montagem Luiz Guimarães de Castro Música Herbert Vianna, Mário Neto, Laert Sarrumor

Festival Mimo de Cinema - Mostra Zona Subterrânea
Curta-metragem: A Maldita
Data: 04/09/2010
Hora: 17h30
Local: Mercado da Ribeira (Olinda/PE) Saiba onde fica

Veja imagens do segundo dia da MIMO


Foto: Beto Figueiroa

Leonardo Altino e o contrastante Marlos Nobre

Hoje às 18h, o violoncelista Leonardo Altino se apresentará ao lado de sua mãe, a pianista e produtora artística Ana Lúcia Altino Garcia, no Convento de São Francisco.

No programa constam peças de Brahms (1833-1897), Chostakóvitch (1906-1975), do catalão Gaspar Cassadó (1897-1966) e de Marlos Nobre (1939-).

O compositor pernambucano, cujas obras para cello e piano integram um CD recém-lançado por Leo Altino, terá duas composições executadas: o Desafio II e o Poema III.

Ambas dão mostra da versatilidade de expressão da qual Marlos Nobre é capaz, que incorpora a exploração técnica e a universalização da linguagem estilística a partir de temas regionais (no Desafio) e se transporta ao sentimentalismo mais direto e invulgar, digno de uma trilha cinematográfica (no Poema).

Confira aqui as duas peças:

Desafio II, com os próprios Leo Altino e Ana Lúcia Altino Garcia



Poema III, em interpretação de Gloria Lin (piano) e Jesús Castro-Balbi (cello)

Que o coração seja tocado

Com exclusividade para o Blog da Mimo, os comentários do violoncelista Leonardo Altino sobre o repertório do recital que ele fará hoje às 18h, no Convento de São Francisco, ao lado de sua mãe, a pianista Ana Lúcia Altino Garcia.

***

REPERTÓRIO

J. BRAHMS
Sonata em Mi menor op. 38 para cello e piano
Allegro non troppo
Allegretto quasi Menuetto
Allegro


M. NOBRE
Poema III para violoncelo e piano Op.94 nº3
Desafio II para violoncello e piano Op.31/2a


D. SHOSTAKOVICH
Sonata em ré menor Op.40 para cello e piano
Allegro non troppo
Allegro
Largo
Allegro

G. CASSADÓ
Requiebros para cello e piano


***

Adoro esse programa por duas razões. Primeiramente, porque comecei a tocar essas peças ainda bem jovenzinho, antes de ir aos Estados Unidos, com a minha pianista favorita (aquela que também me trouxe ao mundo, junto com meu pai, é claro). Então, é um prazer enorme quando a gente toca junto novamente.

Adoro também essas obras porque são peças que vem do coração. Eu acho isso a parte mais importante na arte e no ser humano, que o coração seja tocado. Muitas vezes, ou seja no nosso dia-a-dia ou na arte ou qualquer outra parte da vida, é como se existisse uma camada ao redor do coração prevenindo a pessoa de amar e ser amado.

Esses compositores, em seus estilos diferentes e circunstâncias da vida distintas, conseguiram fazer essa conexão entre o coração e sua música. Da paixão dos temas lindíssimos do Brahms e sua densidade sonora e harmônica a beleza pura de “Poema” do Marlos Nobre e a força de “Desafio” do mesmo; da simplicidade da música do Shostakovich e seus gritos de protestos que a mesma esconde a fantasia e alegria de “Requiebros” do Cassadó e o calor do sangue espanhol em sua música.

Compositores que chegaram a esse objetivo de deixar seus corações expostos e transparentes. Eles se comoverem em suas vidas e traduziram esses sentimentos - suas alegrias, paixões e sofrimentos - em notas musicais. Cada peça apresenta dificuldades técnicas únicas, mas a parte mais difícil é além das notas: que o interprete deixe, mais uma vez, que o coração seja tocado.


Leonardo Altino

Conheça mais sobre a idealizadora da Mimo

Foto: Beto Figueiroa
De 5 para 40

A loja de CDs, no Rio de Janeiro, que Lu Araújo herdou do seu pai, talvez tenha sido a grande impulsionadora da trajetória de produção musical da idealizadora da Mimo. Daquele ponto de partida o caminho trilhado foi longo e árduo, mas sempre focado no fomento e divulgação de produtos culturais vinculados à identidade brasileira. E o instrumento para essa articulação ganhou corpo e estrutura em 1992, com a concepção da Lume Arte e Marketing Cultural, voltada para projetos de curadoria e produção artística de eventos.

Foi assim que iniciativas como Encantadeiras, Bom Todo (de Zabé da Loca) e Saudades de Princesa conseguiram se concretizar, através de defesa de uma concepção de democratização e sustentabilidade no processo de produção musical, firme bandeira encampada por Lu Araújo. No caso da MIMO, não é diferente. A batalha para implantar uma mostra da qualidade que se tem hoje foi tão dura quanto sua trajetória. Mas os números já podem ser algum indicativo de que a batalha está sendo vencida. É que somente nesta 7º edição faz parte da programação 40 concertos, um número oito vezes maior que a primeira MIMO, realizada em 2004.

Jampa é a pedida para os recifenses no feriadão

Ilutração: Davi Lira

E o feriadão da Independência já começou. Para muitos recifenses, a opção de descanso e lazer já tem rumo certo: João Pessoa. A boa notícia é que além do patrimônio histórico raro, com inúmeras igrejas que remontam ao século XVI, da badalada praia de Tambaú e da visitação à Ponta do Seixas, o turista da cidade-prima vai poder conferir o início das apresentações das atrações da MIMO, que em seu segundo ano embarca com sua distintiva sonoridade no cenário verde de Jampa.

Programação Completa - Mimo João Pessoa

Dia 4 (sábado)
Igreja de São Frei Pedro Gonçalves (João Pessoa/PB)
19h30
Igreja de São Frei Pedro Gonçalves (João Pessoa/PB)
21h
Dia 5 (domingo)
Basílica de N. S. das Neves (João Pessoa/ PB)
19h30
Basílica de N. S. das Neves (João Pessoa/PB)
21h
Dia 6 (segunda)
Convento de São Francisco (João Pessoa/PB)
19h30
Igreja de São Francisco (João Pessoa/PB)
21h 21:00
Dia 7 (terça)
Igreja da Misericórdia (João Pessoa/PB)
19h30
Igreja da Misericórdia (João Pessoa/PB)
21h

Mais

Trio "das garotas" evidencia repertório nacional de câmara

Foto: Renato Spencer

Áspera, inquietante, pesada. Assim poderia ser definida a ambientação sonora inicial do recital com o Trio Puelli, que começou pontualmente às 18h no Convento de São Francisco. Isso porque o repertório escolhido por Ana de Oliveira (violino), Ji Shim (violoncelo) e Karin Fernandes foi pensado para acabar com a resistência a linguagens e discursos musicais contemporâneos, afastados do universo musical que o grande público de música clássica está acostumado a ouvir.

Mas essa primeira impressão logo se dissipou à medida que as "garotas", significado de puelli em latim, foram se revezando entre si para explicar o repertório, cujas duas primeiras peças foram Alternâncias (1997), do paulista Ronaldo Miranda, e Prelúdio e Toccata (1997, rev. 2008) do também paulista Mário Ficarelli, peça esta dedicada ao Trio Puelli.

Com a simpatia das instrumentistas, a plateia já tinha se condicionado e dado fim a qualquer resistência quando elas começaram a tocar Estruturas Verdes (1976) do carioca Ricardo Tacuchian, a peça mais arrojada do programa. Karin Fernandes havia explicado que a obra, cujo título tem conotação ecológica, fazia amplo uso de técnicas expandidas (formas não convencionais de emissão de som pelos instrumentos).

No segundo movimento, por exemplo, o pianista tinha de tocar as cordas do piano diretamente, obtendo um timbre igual ao do cravo, e violino se valia de um glissando (deslizado) para imitar a sirene de um carro dos bombeiros. Já no terceiro, o pianista fazia uso de bastões de vibrafone para percutir diretamente as cordas, tornando o timbre mais denso.

(continua)

Trio "das garotas" evidencia repertório nacional de câmara - 2

Foto: Renato Spencer

Para contrastar com a atmosfera estética reinante até então, a quarta peça do programa, Cinco miniaturas brasileiras, promoveu um retorno ao "ouvido tradicional", como é da linha de pensamento musical do autor, o mineiro radicado em São Paulo Edmundo Villani-Cortes. Por conta disso, o Baião - último movimento das miniaturas - recebeu os aplausos mais calorosos da noite.

Por fim, o Trio Puelli presenteou o público da Mimo com uma importante partitura de um pernambucano, Marlos Nobre (O acorde invísivel, do carioca Edson Zampronha, apesar de inicialmente prevista para encerrar o recital, não foi tocada), cujo Trio, op. 4 (1960) sintetizou a amplitude do concerto em seus três movimentos, reproduzindo a transição da dissonância ao melodismo, à harmonia e à rítmica, e do difuso ao lírico.

Foi a segunda vez que o Trio de Marlos Nobre - que ganhou o concurso Música e músicos do Brasil, promovido pela Rádio MEC em 1960, e deixou um trio de Guerra-Peixe em segundo lugar - teve execução em Pernambuco. A primeira aconteceu no Virtuosi 2007, a cargo do Trio de Brasília.

Entre as pessoas que assistiam ao recital e elogiaram bastante o Trio Puelli está D. Maria Augusta Maia da Silva, violinista fundadora da Sinfônica da Paraíba e residente no Recife desde os anos 60, que vem de táxi sozinha para todos os concertos de música clássica da Mostra. D. Augusta ressaltou a dificuldade das peças e o entrosamento das instrumentistas.

Fique atento nos horários de coleta das senhas de acesso

Para evitar contratempos saiba de antemão que os concertos das 10h, 11h30 e 16h30 são abertos ao públicos, mas a entrada é sujeita à lotação dos espaços. Com a programação das 18h tem distribuição de senhas de acesso a partir das 16h30, do dia do concerto. Na das 19h a distribuição se inicia a partir das 17h. Com as apresentações das 20h30, as senhas só deverão ser buscadas a partir das 18h.

O local de coleta das senhas de acesso (que são todas gratuitas) é na Biblioteca Municipal de Olinda, localizada na Avenida Liberdade, nº 100, no bairro do Carmo (Olinda/PE). Confira abaixo no mapa o ponto preciso precisa:


Sorteio de convites 3

Valendo o terceiro convite, para a apresentação do conjunto Selmer #607, hoje na Igreja da Sé.

O modelo de violão 607 da Selmer ficou conhecido pelo nome da empresa francesa que o produziu e comercializou de 1932 a 1952, a qual hoje concentra-se somente na fabricação de instrumentos de sopro. No entanto, o Selmer #607 foi concebido por um lutiê italiano muito conceituado na Europa durante o século passado. Qual o nome desse lutiê?

A primeira pessoa a responder corretamente nos comentários receberá a confirmação via e-mail e deverá ligar para o número informado, levando ainda um documento de identidade com foto na ocasião do recebimento do convite.

PS.: Não poderão participar pessoas que tenham contato pessoal ou profissional com os integrantes do Blog da Mimo ou com qualquer integrante da produção e da assessoria de imprensa da MIMO 2010.

Da instrospecção ao delírio

Quando se fala em jazz, pensa-se logo em sofisticação e requinte. Música para ser ouvida à luz baixa, num ambiente pequeno e esfumaçado. Nessas ocasiões, costuma-se imaginar um pequeno grupo tocando e improvisando para uma platéia atenta e reservada. Uma liturgia musical quase imutável. No entanto, foi interessante ver essa memória cristalizada se fragmentar e ruir na apresentação do Mario Canonge Trio na Igreja da Sé. Indo do mais etéreo acorde ao mais dançante tema, o combo levou a platéia da MIMO da introspecção ao êxtase.

Canonge iniciou seu concerto com a surpreendente Manman Dlo e, sem mais delongas, o trio mostrou a que veio. O pianista desferia acordes pesados e dissonantes enquanto o baixista Liney Marthe fornecia o chão harmônico e o baterista Chander Sardjoe dividia o compasso em mil partes distintas. Em Plein Sud, um tema desafiador, pois apresentava variações de dinâmica a todo instante, os músicos despejaram sua fúria improvisativa. Madikera evocou os tambores da Martinica (com direito a citação de Chovendo na Roseira) e a partir daí o balanço começou a ganhar destaque.

Ao final do concerto, com uma simpatia contagiante, Canonge convidava a platéia a cantar e dançar enquanto improvisava mostrando que traz em sua música não apenas o aspecto contemplativo do jazz, mas também o interativo e o lúdico de sua terra natal. Quem há de resistir ao swing caribenho? Impossível. O resultado: público e músicos dançando e cantando como se fossem um. Coisas da música e sua capacidade de seduzir e encantar.

Baixe todo o repertório da Mimo 2010

Criamos um link no menu lateral para que você possa baixar o repertório de todas as apresentações da MIMO 2010 e os programas/resenhas originalmente escritos pela equipe do Blog da Mimo, os quais não foram impressos por problemas técnicos.

Lembramos que o repertório geralmente sofre modificações de acordo com eventualidades ou opção dos músicos.

Pianista paulista aposta na instrospecção

Melodias do Brasil

Davi Lira
Da equipe do Blog da Mimo

A música de Heloísa Fernandes tem sons folclóricos. Como Mário de Andrade, a pianista acreditava que era possível encontrar a alma do Brasil através do estudo das melodias de sua própria gente, e que com essa busca seria possível criar novos trabalhos. Porém, em vez do folclore de cores típicas e ritmos fortes, a pianista preferiu uma atmosfera delicada e introspectiva.

Com os arranjos do baixista Zeca Assumpção e a percussão de Ari Colares, Candeias, finalizado em 2009, resume de forma profundamente nova e absolutamente harmoniosa o processo de transformação da própria identidade brasileira.

Mas se a essência dos sons remete a contribuição de Mario de Andrade, o propósito e o método da articulação dessas sonoridades fazem lembrar outro Andrade, o antropofágico Oswald. Isso porque Heloísa busca articular as influências das pesquisas folcloristas da década de 30 com sua visão peculiar de compositora urbana, vinculada à sua formação erudita. Assim, não há como não se surpreender e se chocar com tamanhos propósitos, efeitos e pelos traçados ritmados do seu piano.

Concerto
Heloísa Fernandes Trio
Data: 04/09/2010
Hora: 18h
Local: Igreja de Guadalupe (Olinda/PE)

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