sábado, 10 de setembro de 2011

Standard até que ponto? [3] - ou: Por que o bê-a-bá?)

Entre os fãs de música clássica, muito se questiona a razão de se empreender tantas gravações de obras já consagradas em prejuízo de outro sem-número de obras-primas que ainda não chegaram a se consolidar nos programas regulares das salas de concerto. Por tabela, o questionamento também se aplica aos conjuntos musicais que ocupam a maior parte da programação anual com o repertório standard, chegando estes a repetir certas partituras por alguns anos seguidos. Acontece que, em contrapartida, todos os grandes regentes e instrumentistas são medidos e avaliados pelo domínio de execução das obras canônicas, seja pela capacidade de evidenciar da melhor forma possível toda a expressão e arquitetura dessas obras, seja pela percepção para ressaltar aspectos e nuances pouco percebidos nas interpretações convencionais. Essa é a chave principal para observar a execução de peças como as do repertório de hoje, trabalhadas ao longo da semana no Curso de Regência da MIMO 2011.

Orquestra Sinfônica de Barra Mansa e maestros selecionados
Seminário de Olinda, às 11h deste domingo

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Beethoven
Abertura Leonora III

Rossini
Abertura da ópera O Barbeiro de Sevilha

Liszt
Os Prelúdios

Tchaikóvski
Sinfonia n° 4

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O ministrador do curso
Isaac Karabtchevsky é o regente mais lembrado em qualquer recall informal entre o grande público apreciador de música clássica. Chegou à Petrobras Sinfônica em dezembro de 2003 e executou a integral das sinfonias de Tchaikovsky e das Bachianas Brasileiras de Villa-Lobos em 2004. A partir do ano seguinte, iniciou o Ciclo Mahler, que completará a execução das dez sinfonias do compositor austríaco em 2008. Regeu a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA) entre 2003 e 2010 e a Orchestre Nationale des Pays de la Loire, em Nantes, França, entre 2004 e 2009. Passou nos anos anteriores pela Sinfônica do Teatro La Fenice, de Veneza, a Tonkunstler Orchester de Viena, a Orquestra do Teatro Municipal de São Paulo e a Sinfônica Brasileira. Atualmente, além da Petrobras Sinfônica, dirige a Orquestra Sinfônica Heliópolis, do Instituto Baccarelli.



Depoimento - Dimitri Cervo


Foto: Débora Zandonai

"Estou impressionado com a Mimo 2011. Não imaginava que o evento fosse dessa magnitude, tão organizado. O porte da Mimo tem uma dimensão enorme. Os voluntários fazem a diferença. Acho a iniciativa extremamente louvável, não só de trazer música clássica, mas outras formas de arte menos acessíveis. Dessa forma, consegue promover a democratização de várias manifestações culturais."

Dimitri Cervo é compositor e pianista e tem 30 programações de obras por 16 grupos orquestrais, dentre os quais a Camerata Antiqua de Curitiba, a Petrobrás Sinfônica, a Orquestra de Câmara da Ulbra, dentre outros. No domingo (11), terá sua composição "Série Brasil 200 n. 1 - Brasil Amazônico" executada pela Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O concerto acontece na Igreja da Madre de Deus, em Recife.

Gotan Project transforma Praça do Carmo em pista de dança


Beto Figueiroa/SantoLima
Esqueça, por um momento, o dramático joguinho amoroso na dança do gênero tango. Rostos virados, sem se fitarem, nada disso. Quem foi conferir a apresentação da banda Gotan Project, na última quinta-feira (08), na Praça do Carmo, provavelmente sentiu-se em uma pista de dança. O envolvente eletrotango, mistura do tradicional ritmo argentino à música eletrônica, surtiu efeito no público: olhos fixados na performance do grupo, nas projeções gráficas do cenário ou na paquera ao lado. A expectativa em torno da exibição do conjunto, digna do status de principal atração da MIMO 2011, foi recompensada.


Revolucionar o fazer artístico do gênero a que pertence é o mérito do trio, formado pelo francês Philippe Cohen Solal, o argentino Eduardo Makaroffe e o músico e programador suíço Christoph Muller. Seja em composições como Uma música brutal ou La gloria, não faltou sensualidade durante toda apresentação. Contudo, o som dos instrumentos bandoneon, violão e violino traziam, aos espectadores, a singularidade harmônica da cadência portenha. Deu tempo ainda de um estudante chileno subir no palco, carregando a bandeira do seu país. Neste ano, uma série de protestos vem acontecendo lá, por reformas no sistema de educação. Acontece.


Confira o vídeo que o Blog da MIMO 2011 fez de parte da apresentação:





Ingressos para Egberto Gismonti

Pessoal, os ingressos para o show de Egberto Gismonti e Alexandre Gismonti já estão esgotados, mas ainda dá pra assistir ali do pátio externo da Igreja, onde a Mimo instalou um telão e colocou muitas cadeiras. O espaço é excelente e o som também. Vale a pena!

Cinema: Confira a programação deste sábado (10) da mostra Panorama Brasil

A Panorama Brasil, a mostra de cinema da Mimo 2011, apresenta hoje três filmes sobre as diferentes manifestações musicais e seus papéis na história da cultura.

Cena de "À sua imagem e semelhança". Foto: Thiago Lira

No pátio do Seminário de Olinda, a partir das 18h, tem início as exibições dos curtas "É muita areia pro meu caminhãozinho", dos paulistas Ana Paula Guimarães e Eduvier Fuentes Férnandez, e "À sua imagem e semelhança", do pernambucano Thiago Lira.

É MUITA AREIA PRO MEU CAMINHÃOZINHO
Trecho de "É muita areia pro meu caminhãozinho". Foto: Divulgação

O primeiro faz uma viagem aos Lençóis Maranhenses para mostrar a riqueza musical de um povoado, com suas cantigas, festejos e folclore. Por meio deles, temos a chance de perceber o valor da música na trajetória cultural de uma comunidade. Já o segundo, vem levantar um tema inédito no Recife: o universo das bandas covers. Como dito anteriormente, Thiago Lira entrevistou os recifenses Thammy Spears, que interpreta músicas de Britney Spears, Tíberio Azul, da banda Seu Chico, China, ex-vocalista da banda Del Rey, e a banda paulista Beatles 4Ever. O documentário esmiuça as condições do mercado de bandas cover e discute a definição do termo, sem pretender chegar a uma conclusão.

Clementina de Jesus. Foto: Divulgação

O pátio da Igreja da Sé abrirá espaço às 19h para a exibição do média-metragem "Clementina de Jesus: Rainha Quelé", de Werinton Kermes. Por meio de depoimentos de nomes como Paulinho da Viola, João Bosco e Paulinho Vergueiro, o filme fala da importância de Clementina de Jesus para a história do samba e da música brasileira em geral.

Lembrando que não é necessário pegar ingresso para assistir aos filmes da mostra. Os vídeos são exibidos em telões, com muitas cadeiras disponíveis no espaço.

Sonoris Fábrica

Tava devendo um vídeo do showzaço do Sonoris Fábrica. Aí está...

Daniel Gortler para ninguém botar defeito


Foto: Beto Figueiroa

A apresentação do pianista Daniel Gortler nesta sexta lotou a Capela Dourada de admiradores e leigos interessados em apreciar o universo aparentemente hermético da música clássica. Seu repertório ateve-se aos românticos Schumann e Mendelssohn, intercalando obras de cada um. No total, foram três obras mais um bis reproduzidas com maestria ao piano, que variavam entre o lúgubre e o alegre. 

Foto: Beto Figueiroa

A Capela Dourada pareceu o ambiente perfeito para abrigar esse concerto. As igrejas, lembremos bem, são locais de reverência a autoridades divinas do catolicismo, onde é necessário seguir uma liturgia específica. Os concertos não são nem um pouco diferentes na formalidade e decoro. A orquestra ou o intérprete são representantes de uma arte maior, canonizada pela história. O público, por sinal, soube se comportar muito bem e respeitar a etiqueta dos concertos. Ao invés de bater palmas ao fim de cada movimento, os aplausos apareceram apenas no final de cada obra.

Foto: Beto Figueiroa

Questão levantada anteriormente pelo próprio blog, Daniel Gortler não parece trazer exatamente uma inovação na sua forma de executar artistas consagrados ao piano. Ele, a rigor, se esforça - e consegue - para trazer ao público uma experiência impecável. Se não é possível esperar algo de incomum, também não se pode colocar defeito em sua técnica, capaz de arrancar sinceros elogios da plateia.

Pra ir aquecendo

Está se preparando pra sair de casa rumo ao Seminário de Olinda? Então vai aquecendo os ouvidos aí...

O lobisomem de Olinda

Quem tem ido pros shows da Mimo 2011, provavelmetne já deve ter esbarrado com uma figura diferente. É uma pessoa fantasiada de alguma coisa não identificada (um monstro) que segura uma faixa com escritos que dizem algo do tipo: "Acesse o yutube (sic) e assista ao clipe O Lobisomem de Olinda". Eu já tinha passado por ele algumas vezes, mas nunca tinha parado pra ler exatamente o que estava escrito. Ontem fiz isso e agora eu facilito o trabalho de você. Aí está o vídeo que ele tanto queria divulgar. Bem criativo o cidadão!

Culto aos maestros


Foto: Renato Spencer

A apresentação do Projeto Coisa Fina ontem foi uma verdadeira festa. Muito animados e cheios de vontade, os jovens músicos paulistas arrebataram o público no Mosteiro de São Bento na homenagem à Moacir Santos.


Ao iniciar o concerto com Coisa n° 2 seguida de outras melodias do álbum mais aclamado do maestro, o contrabaixista Vinícius inicia então uma breve apresentação da banda e de como ela surgiu. Contou ele que se depararam com a obra do pernambucano pela primeira vez enquanto estava no carro do parceiro e coordenador do projeto, Daniel Nogueira. Os dois ficaram maravilhados com o que ouvia e a cada música a emoção só aumentava, mas não passou disso. Anos mais à frente Daniel ligou para o amigo Vinícius e propôs um trabalho em homenagem à Moacir Santos que imediatamente foi aceito pelo colega. Lembrou ainda que antes do Projeto Coisa Fina eles já estavam apaixonados e mergulhados no ritmo pernambucano, fazendo parte de um grupo de Maractu de baque virado lá mesmo em São Paulo.


Apresentações à parte, o grupo deu sequencia ao show com a vibrante e percussiva "Maracatucutê" que fez o público balançar e continuou com "April Child", ambas ainda do Moacir.


Mais uma vez eles tomam o microfone para falar que além do Moacir eles queriam homenagear outros compositores mais populares e anunciaram a próxima canção: um choro do mineiro Mozar Terra chamada "Ascenção". Outro compositor e arranjador J.T. Meirelles, bastante prestigiado no meio artístico por fazer os arranjos de vários discos do Jorge Ben, foi também homenageado pelo conjunto com "Quinta Essência".

Foto: Renato Spencer
Ao término do concerto, anunciaram a última canção seguindo a ideia de homenagens e iniciaram "Assanhado" de Jacob do Bandolim. Mas o público ainda queria mais e eles voltaram pro bis, antecedida por uma história sobre as dificuldades enfrentadas por Moacir Santos e sobre suas rezas evocando o Deus dos músicos: "Gandavers". E para ele, o maestro compôs "Amalgamation", encerrando as apresetações do projeto com louvor.

Delicadeza e Sensibilidade

Egberto Gismonti é uma das grandes figuras da Mimo. Sempre presente nas programações, ele costuma surpreender o público ao apresentar repertórios, arranjos e formações sempre diferentes. E esse ano, deve fazer o mesmo. Pra começar, trouxe seu filho, Alexandre Gismonti, a tiracolo. Isso, por si só, já merece um destaque já que Alexandre é um virtuoso em seu instrumento, o violão. Como se não bastasse, ainda contará com a participação especial da violinista Ana de Oliveira, fechando o trio. Podemos então esperar um concerto de muita delicadeza e sensibilidade onde o equilíbrio entre o virtuosismo técnico e a sensibilidade estética será o ponto alto. O concerto acontece hoje, às 19:00, no Seminário de Olinda. Os ingressos podem ser retirados com uma hora de antecedência na Biblioteca Municipal de Olinda, na Praça do Carmo.

O som daqui, o som do mundo

André Sampaio / Santo Lima

Único pernambucano entre todos os artistas e grupos que se apresentam na Mimo desse ano, o Sonoris Fábrica deu ontem uma aula de versatilidade no Seminário de Olinda. Com integrantes cujas influências oscilam entre o armorial e o jazz-rock, o quarteto liderado pelo violinista Sérgio Ferraz conseguiu lotar a igreja e arrancar aplausos de um público formado predominantemente por jovens. E eles deram aula, explicaram as composições, falaram sobre as inspirações para compor e ainda por cima deram um show de técnica e entrosamento.

Apresentando o repertório do seu novo álbum, homônimo, o Sonoris Fábrica passeou entre ritmos regionais como o frevo, o maracatu, o xote e o baião, variando entre pegadas mais jazzísticas, mais regionalistas ou com mais groove. Ainda contou com o toque ibérico do flamenco, presente na música Tango Flamenco, do violonista Leonardo Mello.

Para quem esperava algo parecido com o trabalho que Sérgio Ferraz desenvolve com Joca Madureira, foi uma surpresa. Apesar das influências serem as mesmas, no Sonoris, Sérgio deixa transparecer o seu lado mais suingado, ficando livre para confundir o público entre a definição de um jazz com sotaque ou um baião “agringalhado”.

Um dos momentos mais fortes da apresentação é quando tocam a música de autoria de Leonardo Mello, A feira. Durante os doze minutos de duração, os quatro componentes se revezam como solistas e podem “se amostrar” um pouco. Ao fim do concerto, fica aquela sensação de que o bairrismo pernambucano, tão exaltado em alguns momentos, não existe na Mimo. O Sonoris Fábrica não está ali apenas para representar o Estado. Aliás, uma das melhores características da música apresentada nos palcos da Mostra é que ela não é marcada pela localização geopolítica, mas pela qualidade estética e relevância cultural. Quando o som é bom, não importa se é pernambucano, paulista, francês ou malês. E todos ganham com isso.

Prática de conjunto

Trecho do programa que escrevi para o concerto de encerramento da Etapa Educativa da MIMO 2007, mas que ano quatro anos depois continua na validade, com poucas modificações.

Uma das disciplinas mais importantes no estudo avançado de instrumentos é a Prática de conjunto, onde o estudante se preocupa não mais exclusivamente com a correta interpretação – técnica ou estilística – de peças solo ou em duo com acompanhador, nem pode depender mais das próprias observações sobre elas. Nesta nova fase, ele aprende também a desempenhar uma função em um conjunto musical mais amplo, camerístico ou sinfônico.

Num grupo de câmara, é preciso equilibrar os timbres dos instrumentos componentes, estabelecer uma rotina de ensaios, ter cuidado com a afinação correta, discutir em conjunto as peculiaridades das peças e atinar para a acústica do recinto. Na orquestra, os músicos delegam sua autonomia à figura do maestro, que assume aquelas preocupações e determina as linhas gerais interpretativas aos instrumentistas conforme sua ponderação de todos os fatores. Fora das escolas de música, as oficinas de festivais são o principal laboratório de Prática de conjunto, e a MIMO organizou nesta edição quatro delas para estudantes de música previamente selecionados.

[As oficinas de instrumentos de cordas com arco foram ministradas pelo violista Nayran Pessanha; as de cordas dedilhadas, pelo bandolinista Marco César; as de madeiras pelo fagotista Elione Medeiros; e as de metais pelo trombonista João Luiz Areias e pelo trompista Antonio Augusto.]

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A Etapa Educativa da Mimo foi coordenada pela violinista Ana de Oliveira, spalla da Orquestra Sinfônica Brasileira, e pelo maestro e violonista Caio Cezar, com apoio [do Consulado Geral da França no Recife, da Prefeitura de Olinda], do Conservatório Pernambucano de Música e do Centro de Ensino Musical de Olinda.

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Muito ainda poderia ser feito pela melhoria da qualificação estudantil musical dos adolescentes e crianças no país caso se proliferassem as sinfônicas jovens, verdadeiros times de várzea orquestrais. Enquanto isso, as oficinas vão cumprindo esse papel. Os alunos selecionados para as da Etapa Educativa da MIMO, por terem sido aprovados numa ampla triagem e pelo treinamento a que foram submetidos nesta semana, possivelmente estarão atuando em grandes orquestras daqui a poucos anos. Por isso, seja você pai, professor ou amigo de algum dos jovens talentos, ou um simples admirador da música universal, acostume-se desde já a aplaudi-los com entusiasmo – e peça-lhes logo um autógrafo, antes que ganhem o mundo.


MIMO in Concert (encerramento das Oficinas de Formação de Orquestra)
Igreja do Monte (Olinda), às 16h


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Antonín Dvořák (1841-1904)
Serenata para cordas op. 22


Laurindo de Almeida (1917-1995)
Concerto nº 1 para Violão e Orquestra


J. Orlando Alves (1970-)
Concerto Breve para sopros
(Tocado também na MIMO 2007)


David Uber (1921-)
Ballets in Brass

Equipe de Produção da Etapa Educativa da MIMO 2011

Ana Oliveira, Coordenadora Didática
Caio Cezar Sitonio, Coordenador Didático
Viviane Borges, Cordenadora da Etapa
Roberta (Conservatório Pernambucano de Música), Produtora CPM
Adriana Telles, Produtora Etapa Educativa
Rafael Amorim, Etapa Educativa
Fátima Bulcão, Prod. MIMO Iniciantes

Confira aqui a relação de todos os professores da Etapa Educativa da MIMO 2011.

Vencedores do sorteio [3]

Enviado por Cecília Pires

Enviado por Mavy Lima
Os vencedores de dois dos últimos três pares de senhas sorteados este ano pelo Blog da MIMO são Cecília Pires e Mavy Lima. Elas escolheram respectivamente as entradas para as apresentações de Hamilton de Holanda e André Mehmari e de Philip Glass.

Tivemos outros participantes que nos mandaram capas de CDs mas, como não comentaram no post do sorteio avisando do envio, não podemos garantir perante todos quem foi o primeiro.

Parabéns aos vencedores e obrigado pela participação.

Standard até que ponto? [2]

Você iria a um concerto sinfônico somente com obras nacionais e que não fossem de Villa-Lobos? Se você responde negativo a essa pergunta mas não pensaria duas vezes caso se tratassem de nomes familiares e cujas obras soassem confortáveis a seus ouvidos, um irônico parabéns: seu gosto pra música clássica é moldado em grande parte pelos maestros que ditaram as preferências da indústria fonográfica e dos programas de concertos durante o séc. XX. "Que bom, então estou sendo guiado por quem entende", você pode pensar. Nem tanto, se tivermos em conta algumas fatores que merecem sua reflexão:

1. A qualidade da música clássica nacional (e latino-americana) vem desde o período colonial e se comprova por inúmeros estudos musicológicos desencadeado por importantes pesquisas de resgate de acervo, algumas destas conduzidas por europeus (basta o exemplo do alemão Curt Lange). É recomendável você mesmo constatar que, tomando por base referências dos últimos 200 anos, a. o Padre José Maurício Nunes Garcia nada devia a Haydn e Mozart, b. os principais compositores românticos brasileiros estudaram na Europa (vide Carlos Gomes, quem em certa época só perdia para Verdi em número de récitas na Itália, Henrique Oswald e Alberto Nepomuceno), c.  os estudos para violino do mineiro Flausino Vale são tão complexos, e até mais bonitos no conjunto da obra, quanto os de Paganini, d. compositores brasileiros vivos de várias linhas estéticas continuam a ser premiados no país e no exterior, ano após ano... Tá bom por aqui.

2. Orquestras norte-americanas amam Copland e Gershwin, orquestras francesas tocam Debussy e Ravel com perfeição, os músicos de Viena sabem Strauss Jr. de cor, Holst e Vaughan Williams são divulgados na Inglaterra com afinco, tirar o melhor de Tchaikóvski e Stravínski é ponto de honra para os russos... Mas quantas orquestras brasileiras enfatizam o repertório nacional e geram gravações de referência mundial? Você saberia dizer duas?

3. A atividade da composição musical cresceu ao longo do tempo (assim como a de todas as artes, o que óbvio) e hoje há tantos compositores disputando espaço que não seria possível dar conta de conhecer os principais deles a não ser sob um grande e direcionado esforço de pesquisa pessoal, então quando eles são escolhidos pelos grupos que ainda são os mais representativos e os de maior dimensão do universo musical, as orquestras sinfônicas e de câmara, torna-se um fato que merece e muito a atenção geral.

4. E, pra não me estender mais, que tal perguntar a algum amigo estrangeiro ouvinte de música clássica se ele escuta compositores brasileiros? A música clássica não é dita como "universal", isto é, sem fronteiras e que encanta a todos?

Esses questionamentos servem não só a favor da música clássica brasileira, mas da música contemporânea em geral. Uma boa oportunidade para conferir o repertório nacional você pode conferir agora pela manhã no concerto da Orquestra de Câmara da Cidade de João Pessoa, na Igreja da Sé às 11h, com regência de Carlos Anísio. Serão tocadas as seguintes peças

José Alberto Kaplan (1935-2009)
Abertura Festiva
(Uma paráfrase de El Salón México de Copland, cuja estruturação formal é preservada na íntegra na peça do argentino radicado paraibano)

Heitor Villa-Lobos (1887-1959)
Fantasia para Saxofone Soprano e Orquestra de Câmara
Arimatéia Veríssimo, saxofone
(Uma das raras peças dedicadas ao instrumento como solista na primeira metade do séc. XX)

Darius Milhaud (1892-1974)
Saudades do Brasil
(Tributo do compositor francês em razão de sua estadia no Rio de Janeiro de 1916 a 1917, como funcionário de embaixada)

Mas como os nomes consagrados da música têm seu inquestionável valor, e como hoje é sábado (espero que você esteja de folga), não deixe de ir ao concerto da Orquestra de Câmara de Toulouse na Basílica de N. S. do Carmo, às 18h30, no Centro do Recife. Eis o repertório, que talvez dispense mais comentários:

Mozart
Sinfonia em Ré Maior n. 38 KV 504 “Praga”

Chostakóvitch
Sinfonia de Camera op. 110a

Britten
Sinfonia Simples

Entrevista - J. Orlando Alves

Foto: retirada do Facebook

José Orlando Alves, mineiro de Lavras, graduou-se e fez mestrado em Composição Musical pela UFRJ, tendo-se doutorado na mesma área pela Unicamp. Ao longo da última década participou e teve obras premiadas em festivais de música contemporânea, a exemplo de Intervenções II e III, concebidas em 2009 graças a uma Bolsa de Estímulo à Criação Artística da Funarte. Atualmente, Orlando trabalha como professor na UFPB e também integra o coletivo de compositores Prelúdio 21 e o Laboratório de Composição da Universidade Federal da Paraíba, o Compomus. Para o Blog da MIMO, ele fala com exclusividade sobre sua primeira participação na Mostra e sobre sua peça a ser executada hoje, o Concerto breve para sopros.

1. O que está motivando sua vinda à MIMO? É a primeira vez na Mostra?
Estou motivado a ir à MIMO esse ano porque a minha peça Concerto breve para sopros será interpretada no concerto de hoje às 16h, na Igreja de Nossa Senhora do Monte. É a primeira vez que estarei na Mostra. A peça será interpretada pelos alunos da Oficina de Madeiras da MIMO.

2. Que apresentações da MIMO você pretende acompanhar e por quê?
Além do concerto em que será tocada a minha peça, provavelmente assistirei ao concerto da Orquestra de Câmara da Cidade de João Pessoa, que tocará também hoje, na parte da manhã [às 11h]. Possivelmente também irei no concerto da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que se apresentará no domingo [às 18h30].

3. Em que projetos (e em quais composições) você tem trabalhado?
Estou trabalhando em uma composição coletiva junto com os meus colegas ligados ao Compomus (Laboratório de Composição Musical da UFPB). A obra já tem nome: Cantata Bruta, e já tem a data da estréia em João Pessoa. Será no sábado (29/10) às 20h, com a repetição do concerto no domingo (30/10) às 20h, no Cine Banguê, com a Orquestra de Câmara da Cidade de João Pessoa (OCCJP) e o Coro Sonantis, com regência de Eli-Eri Moura.

O texto da cantata é baseado em uma uma seleção de histórias integrantes d´A Gigantesca Morgue, de autoria de W. J. Solha que é uma série de 126 minicontos que faz parte de sua História Universal da Angústia. Acredito que a cantata também será apresentada em Recife em dezembro desse ano. Além disso, continuo como membro do grupo carioca Prelúdio 21, e nesse ano teremos o concerto de lançamento do nosso CD em parceria com o Quarteto Radamés Gnattali. O concerto será no CCJF (Centro Cultural da Justiça Federal) no dia 10/12/2011.

4. Por fim, fale um pouco da sua obra a ser apresentada na MIMO.
A obra que será apresentada na MIMO tem o nome de Concerto breve para sopros, foi escrita em 1998 e dedicada ao professor de oboé da UNIRIO, Luis Carlos Justi. Foi composta para 13 instrumentos de sopro: 03 flautas transversas, 03 oboés, 02 clarinetas, 01 fagote e 04 trompas. Na versão que será apresentada na MIMO, substituímos 02 trompas por 02 fagotes. A peça é baseada em uma estrutura formal tradicional de concerto subdividida em movimentos. Podemos entender a linguagem da peça como um tonalismo ezpandido, com claras influências de Stravinsky.

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No vídeo: Insinuâncias, para duo de percussão, de J. Orlando Alves.