sábado, 10 de setembro de 2011

O som daqui, o som do mundo

André Sampaio / Santo Lima

Único pernambucano entre todos os artistas e grupos que se apresentam na Mimo desse ano, o Sonoris Fábrica deu ontem uma aula de versatilidade no Seminário de Olinda. Com integrantes cujas influências oscilam entre o armorial e o jazz-rock, o quarteto liderado pelo violinista Sérgio Ferraz conseguiu lotar a igreja e arrancar aplausos de um público formado predominantemente por jovens. E eles deram aula, explicaram as composições, falaram sobre as inspirações para compor e ainda por cima deram um show de técnica e entrosamento.

Apresentando o repertório do seu novo álbum, homônimo, o Sonoris Fábrica passeou entre ritmos regionais como o frevo, o maracatu, o xote e o baião, variando entre pegadas mais jazzísticas, mais regionalistas ou com mais groove. Ainda contou com o toque ibérico do flamenco, presente na música Tango Flamenco, do violonista Leonardo Mello.

Para quem esperava algo parecido com o trabalho que Sérgio Ferraz desenvolve com Joca Madureira, foi uma surpresa. Apesar das influências serem as mesmas, no Sonoris, Sérgio deixa transparecer o seu lado mais suingado, ficando livre para confundir o público entre a definição de um jazz com sotaque ou um baião “agringalhado”.

Um dos momentos mais fortes da apresentação é quando tocam a música de autoria de Leonardo Mello, A feira. Durante os doze minutos de duração, os quatro componentes se revezam como solistas e podem “se amostrar” um pouco. Ao fim do concerto, fica aquela sensação de que o bairrismo pernambucano, tão exaltado em alguns momentos, não existe na Mimo. O Sonoris Fábrica não está ali apenas para representar o Estado. Aliás, uma das melhores características da música apresentada nos palcos da Mostra é que ela não é marcada pela localização geopolítica, mas pela qualidade estética e relevância cultural. Quando o som é bom, não importa se é pernambucano, paulista, francês ou malês. E todos ganham com isso.

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