sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Ballaké, Segal e Naná: concerto representa superação da dominação europeia no mundo

Foto: Beto Figueiroa - Ateliê Santo Lima


O ressentimento dos africanos pela dominação europeia, mais evidente no século XIX no continente, ficou para trás quando o malinês Ballaké Sissoko teve a ideia de tocar e gravar o álbum Chamber Music com o francês e violoncelista Vincent Segal. A cumplicidade desenvolvida na parceria pôde ser atestada, pelo público da MIMO 2011, na apresentação da dupla, nesta última quarta-feira (07), na Igreja da Sé, em Olinda. Ironicamente, o concerto foi realizado no dia em que se comemora a Independência do Brasil. Aqui, europeus e africanos foram protagonistas do processo de colonização e, consequentemente, formação do povo brasileiro. A mestiçagem resultante disso esteve presente na participação do multiartista recifense Naná Vasconcelos no finalzinho da apresentação. 

A amizade entre Ballaké e o francês era perceptível em gestos simples, como quando Segal se curva para conferir a primeira nota do solo do malinês na música Oscarine. Ou no intervalo entre as canções Houdesti e Wo Yé N'gnougobine, no tempo em que o violoncelista explica, didaticamente, em um português esforçado, que o Kora não é um instrumento percussivo, e sim, clássico. Ele conta ainda que o artefato teve origem no norte de Mali e pertence à cultura mandinga, espécie de etnia africana. Ballaké também dá os seus sinais de bem-estar. Vestido de bata e calça branca, sapato marrom e um relógio de ouro no pulso, tocava sempre de olhos fechados, como quem precisasse abster-se de um sentido para incorporar o sentimento provocado pelo som que emitia. 

Segal também procurou afinidades entre seu parceiro e a cultura brasileira moderna. Após executarem a passional Histoire de Molly, ele dá, novamente, mais uma pausa, e diz que Ballaké tem um filho que é jogador de futebol. O artista africano, inclusive, já atuou profissionalmente no clube francês Paris Saint-Germain.

Foto: Beto Figueiroa - Ateliê Santo Lima


Na décima canção, intitulada Mako Mady, a dupla recebeu a participação do músico pernambucano Naná Vasconcelos. Sua sonoridade mística e sensorial proporcionou um novo tom ao concerto minimalista até então. Naquele momento, a arte que os três produziam, juntos, representava, em certa medida, a superação da dominação europeia pela mundo. A arte tem essa capacidade de colocar um ponto final em qualquer ressentimento. Para finalizar a noite, surpreendem a todos, executando a música Asa Branca, do mítico compositor popular brasileiro Luiz Gonzaga.

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