terça-feira, 7 de setembro de 2010

Cartas íntimas

Foto: retirado da Internet

Se considerarmos a importância da fonte inspiradora na criação de uma obra-prima, o grande quarteto de cordas apresentado pelo Hugo Wolf Quartett ontem, no Mosteiro de São Bento, não foi o 14° de Mozart ou o 7° de Beethoven, mas o n° 2 do tcheco Leoš Janáček.

Luminoso e transfigurador em todos os seus quatro movimentos, onde se destaca por diversas vezes o amplo uso de harmônicos em passagens de arcadas rápidas e as partes da viola no primeiro movimento, o quarteto de Janáček foi intitulado por ele mesmo de Cartas íntimas em razão da mensagem de amor intenso e até transcendental (pois nunca se concretizou carnalmente) à jovem Kamila Stösslová.

Tornou-se conhecida a relação platônica entre Janáček e Stösslová, sobretudo, porque tenha sido um caso único na História da Música onde uma mulher inspirou tão profundamente um músico ainda sem reconhecimento que o motivou a produzir obras que o transformaram em um aclamado nome quando ele já estava na terceira idade.

Ambos, casados, conheceram-se em 1917 e relacionaram-se através de uma longa troca de cartas até a morte do compositor, em 1928. E o Quarteto n° 2 não foi a única obra que nasceu das centelhas de amor de Janáček. Stösslová rendeu também a criação da ópera O diário de alguém que desapareceu, da Missa Glagolítica e da Sinfonieta.
Foto: André Sampaio

Merece um elogio a parte no concerto a explicação preliminar dada pelo violoncelista Florian Berner, que surpreendeu os ouvintes com um português muito claro.

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