terça-feira, 7 de setembro de 2010

Rapsódia brasileira

Escrever sobre música é uma tarefa difícil. Ela fala por si mesma e as palavras não conseguem abarcar a grandeza de sua presença. O texto busca, ao menos, fornecer um relato aproximado de seu acontecimento, um vislumbre de seu brilho. Nesse sentido, o escritor é um ingênuo que se vê obrigado a se dedicar inteiramente ao ofício do delinear. E o faz sem temer...

Como era de se esperar, o concerto do compositor residente da MIMO 2010 foi de parar o tempo. Na abertura, Tiso mais o quarteto de cellos Brasil Ensemble executaram uma das mais sublimes composições de Tom Jobim, Luíza, conferindo-lhe um ar camerístico. Em Embolada e Prelúdio, os músicos exploraram as nuances contrapontísticas do Villa-Lobos numa interpretação que transbordava sentimento. Brasileirinho ganhou um tratamento interessante, numa inusitada mistura de ragtime e choro.

Para o momento mais improvisativo da noite, o pianista convidou o guitarrista Victor Biglione e o violoncelista Márcio Malard. Aquarela do Brasil de Ary Barroso foi revisitada numa interpretação que primou pela riqueza de dinâmicas e pelo fraseado alucinado de Biglione que esbanjava domínio técnico do instrumento. Já no standard Autumn Leaves, Tiso e Victor se refestelaram em seu famoso ciclo de quintas numa interação telepática.

Por fim, o pianista mostrou ao público pernambucano sua vertente composicional sinfônica. Junto com a excelente Orquestra MIMO regida por Guilherme Bernstein, Tiso executou sua suíte em cinco movimentos Cenas Brasileiras. Indo das mais abstratas harmonizações e fragmentados compassos ao frevo mais rasgado, a música do pianista exalou uma brasilidade inebriante, sem espaço para esteriótipos.

Uma noite memorável onde a música divagou sobre si mesma absoluta e altiva.

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